Publicada em 18/04/2019, às 13h57 | Atualizada em 18/04/2019, às 13h59

Por Paula M. Bourguignon, com edição de Matheus Thebaldi

Claudecir: pessoa em situação de rua volta a estudar e sonha em mudar de vida


Guiomedce Paixao
Centro pop Claudeci eja
Claudecir está em situação de rua há sete anos e planeja conquistar um emprego após retomar os estudos na EJA

Cada pessoa tem sua própria história, sua essência, suas superações e seus anseios. Uma pessoa em situação de rua tem todos os dias o desafio de lidar com as adversidades da vida, além de sobreviver com a indiferença do olhar do outro.

Morando desde 2012 nas ruas, dormindo há três anos sob a marquise de uma padaria em Jardim da Penha, Claudecir Brites, de 51 anos, disse como é viver essa realidade, da qual está lutando para sair:

"Na rua, passamos por humilhação todos os dias. Dependemos muito da boa vontade do outro, principalmente para comer. Parece que estamos vendendo nossa alma. Já não andamos muito limpos na maioria dos dias e, quando chegamos aos lugares, as pessoas já olham desconfiadas. No ponto de ônibus, algumas já pensam que vamos assaltar. Isso é ruim", lamentou Claudecir.

Em busca de novas oportunidades, ele está frequentando as aulas da modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA) no Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População de Rua (Centro-Pop) há quase um ano e diz o que espera ao adquirir esses conhecimentos:

"Quando vou para aula, fico interessado. Sou um aluno dedicado e fico na porta para começar a aula. Gostaria de ser advogado para ajudar as pessoas. Não aconselho ninguém a entrar nessa vida".

História 

Ele contou que foi para a rua por conta de conflitos familiares: "Eu morava com minha mãe e meus irmãos. Somos em cinco filhos no total, mas eu brigava muito com um dos meus irmãos. Na época, ele tinha 27 anos. Ele fumava perto da minha mãe e bebia, e ela ficava doente. Eu não gostava da atitude dele e, então, decidi vir para a rua. Acho que ele se sente arrependido pelas nossas brigas", relatou Claudecir.

Mãe

"Sinto falta da minha mãe. Vejo a foto dela direto. Hoje, ela está com 79 anos, e gostaria de pedir desculpas a ela pelo modo que saí de casa, sem falar nada com ela. Se Deus permitir e tiver um tempo, quero muito ver ela novamente. No Dia das Mães, já estou me planejando e tomando coragem de encontrar com ela".

Cotidiano

"Hoje em dia consigo até me virar na rua. Faço alguns bicos, seja olhando os carros ou revirando o lixo, onde sempre encontro alguma coisa: latinha, relógio, celular quebrado ou cordão de ouro. Assim consigo revender essas mercadorias. Isso me ajuda a ter uma grana por um momento. Seria melhor ter um emprego fixo e não depender disso".

Guiomedce Paixao
Centro pop usuários da rede no mercado de trabalho
"A oferta da EJA no Centro-Pop oportuniza o retorno aos estudos, motivando para vislumbrar possibilidades de superação da situação de rua", diz Mauro

Centro-Pop

O Centro-Pop funciona como porta de entrada para adultos em situação de rua na rede da proteção social especial. No espaço, com capacidade para 100 pessoas por dia, os usuários recebem kit de higiene pessoal, podem tomar banho, lavar roupas e se alimentar. Além disso, conta com uma sala de EJA para aquelas pessoas que desejam voltar a estudar.

"Ter a parceria da Secretaria Municipal de Educação (Seme) para manutenção de uma sala de EJA no Centro-Pop tem sido uma experiência exitosa, uma vez que oportuniza o retorno aos estudos, motivando para vislumbrar outras possibilidades de superação da situação de rua. A partir da EJA no serviço, tivemos o ingresso de sete assistidos no Ifes", disse o coordenador do Centro-Pop, Mauro Motta.

Futuro

Sobre o futuro, Claudecir tem planos: "Gostaria de ter um serviço e estar dentro da minha casa, almoçando uma feijoada e depois descansando. Quando você está na rua, não pode escolher o que vai comer, mas sim o que te oferecem".

"O conselho que dou é que as pessoas não entrem nessa vida. Vou tirar meus documentos, procurar um emprego, seja como vigia em um prédio ou auxiliar de serviços gerais. Gostaria de ter minha carteira assinada e, depois, tentar arrumar um cantinho para mim", planeja Claudecir.

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