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Solenidade de doação do antigo Clube Saldanha da Gama será nesta terça-feira

Publicada em | Atualizada em

Por Deyvison Longui, com edição de Matheus Thebaldi


Elizabeth Nader
Saldanha da Gama reformado em 2010
Após obras de restauração, sede do Saldanha da Gama poderá abrir Museu da Colonização

O prefeito de Vitória, Luciano Rezende, assina, nesta terça-feira (4), a lei municipal que autoriza a doação da antiga sede do Clube de Regatas Saldanha da Gama, situado em Forte São João, ao Serviço Social do Comércio no Espírito Santo (Sesc-ES) .

A solenidade está marcada para as 9 horas, no próprio Saldanha da Ganha, e contará com a presença do presidente de Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, e do superintendente do Sesc-ES, Gutman Uchoa de Mendonça, além de convidados.

Com a assinatura do documento, o Sesc-ES, órgão ligado à Fecomércio-ES, poderá implantar no local o Museu da Colonização e da Imigração do Espírito Santo, além de realizar obras de restauração da edificação.

Atração cultural

"Com a doação, o objetivo é transformar aquela edificação histórica numa importante atração cultural para a cidade, assim como foi realizado com o Teatro Glória", destacou o presidente da Fecomércio-ES, José Lino Sepulcri, enfatizando ainda a importância da parceria com a Prefeitura de Vitória para efetivação do projeto.

Ainda de acordo com Sepulcri, os próximos passos após a doação da edificação são fazer a transferência do imóvel e iniciar e elaboração do projeto de recuperação, preservando a sua arquitetura, que é tombada como patrimônio histórico.

"Como uma inovação, estudamos colocar um elevador panorâmico com vista para a baía de Vitória, dando mais atratividade turística ao imóvel. Esperamos que, em dois anos, as obras propostas estejam concluídas", apontou o presidente da Fecomércio-ES.

Turismo e cultura

Para o presidente da Companhia de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Vitória, Leonardo Krohling, o evento é mais um grande passo rumo à revitalização do Centro. 

"O antigo Clube Saldanha da Gama passará a ser um local de valorização da nossa história. Estamos na expectativa para ver esse equipamento funcionando e acreditamos que ele vai seguir a linha dos museus mais modernos que a gente tem hoje no Brasil e no mundo, com bastante interatividade e inovação em suas instalações", apontou.

Aquisição

A Prefeitura de Vitória adquiriu a antiga sede do Clube Saldanha em 2006, por R$ 2,1 milhões. A edificação possui 2,5 mil metros quadrados.

O clube atualmente funciona em espaço próprio (12 mil metros quadrados) ao lado da edificação, que vai do ginásio até a garagem de remo. A muralha é tombada a nível estadual como de interesse histórico.

Durante a primeira etapa de melhorias realizadas para abrigar, em 2010, a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Semesp), foram descobertas paredes que podem datar do século XVIII, feitas com conchas, na parte interna do prédio.

A edificação já recebeu visitas ilustres, como o príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança (família real brasileira) e do presidente da República João B. Figueiredo. Nas grandes festas, apresentaram-se Gal Costa, Maysa, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga, Emilinha Borba, Dorival Caymi, entre outros.

História

Carlos Antolini
Saldanha da Gama reformado em 2010
Edificação será doada para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES)

O Forte São João - atualmente conhecido como Saldanha da Gama - foi construído, no início do século XVIII, para ser uma fortaleza e proteger a ilha de Vitória de invasões estrangeiras. Depois, funcionou como cassino e foi, durante décadas, sede de um tradicional clube de regatas da cidade – o que lhe valeu o nome pelo qual é conhecido até hoje.

Tudo começou em 1592, quando o pirata inglês Thomas Cavendish se aproximou com sua esquadra da ilha de Vitória, depois de um saque bem-sucedido a Santos, Estado de São Paulo.

Para se defenderem dos invasores, os habitantes da Vila de Vitória improvisaram, com madeira, pedras, areia, dois fortes na baía: um na base do Morro do Penedo e outro no Morro do Vigia. Depois da expulsão dos piratas, o forte do Penedo foi gradativamente desativado. Já a construção erguida do outro lado da baía foi mantida e deu origem ao Forte São João.

Muralha e canhões

Entre 1678 e 1682, a fortaleza passou por um processo de recuperação, mas foi em 1726, com um projeto do engenheiro Nicolau de Abreu, que o Forte São João foi erguido. A estrutura, com um pavimento, contava também com muralha de proteção, merlões, canhoneiras e 10 canhões. Data de 1767 o registro da primeira planta do forte, feita pelo engenheiro José Antônio Caldas.

Em 1808, o Forte São João foi ampliado, com a construção, ao fundo, de uma área mais alta que as demais. Depois de oito décadas e de muitas batalhas em defesa do território, o forte foi desativado. A edificação e o seu entorno foram vendidos e a área passou a se chamar Chácara do Bispo.

Em 1924, a edificação foi comprada, reformada e ampliada, passando a contar com três andares e uma entrada para o pavimento superior, pela avenida Vitória. A fachada também sofreu grande mudança, ganhando um aspecto eclético. No local iniciaram-se as atividades do Cassino Trianon, que lá funcionou até 1930.

Clube se instala nos anos 30 e transforma uso de prédio

O prédio do antigo Forte São João foi oficialmente comprado pelo Clube de Regatas Saldanha da Gama em 1931. Para empreender mais uma reforma na edificação, em 1934 contratou-se André Carloni, renomado construtor da época. A construção ganhou um passadiço e nova sacada. O salão foi ampliado e a fachada, modificada. Na década de 40, o prédio já contava com cinco pavimentos, incluindo o térreo e as duas torres.

O pátio, que antes abrigava brinquedos, como um carrossel, passou a ser espaço aberto à prática de esportes, festas e solenidades. No local, jogavam-se basquete e futebol e também batizavam-se os barcos de remo, esporte que era orgulho do clube.

Quando foi oficialmente comprado pelo Clube de Regatas Saldanha da Gama, em 1931, o prédio do antigo Forte São João ainda estava às margens da baía e esportes como o remo, a natação e o polo aquático eram muito praticados pelos atletas do clube.

Uma piscina flutuante era montada na baía com a ajuda de barcos e bóias, que demarcavam as margens, para a disputa das provas de natação e jogos de pólo aquático.

A intensa prática de esportes levou atletas do clube a se destacarem estadual e nacionalmente. O mais brilhante da história do Saldanha da Gama foi o desportista Wilson Freitas que, remando, levou a tradição do Saldanha para fora do Espírito Santo. Em sua homenagem, seu nome foi dado ao ginásio que o clube construiu ao lado do antigo forte e seu túmulo foi decorado com a escultura de um barco de remo.

Prédio permanece com o nome Saldanha da Gama

O antigo Forte São João passou a se chamar Clube de Regatas Saldanha da Gama, quando em 1931 começou a abrigar oficialmente a sede social do clube. O nome é uma homenagem ao almirante Luís Filipe Saldanha da Gama, que nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em abril de 1846.

Durante os anos que ocupou o prédio, o clube, fundado em 1902, marcou a vida de moradores de Vitória. A edificação -que em breve abrigará o Museu da Colonização do Solo Espírito Santense - avança na história com o nome Saldanha da Gama, conservando parte do que representou na vida dos capixabas.