Publicada em 25/04/2023, às 11h25

Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes

Convivência escolar e cultura de paz nas escolas reúne diretores em seminário


André Sobral
Secretária Juliana Rhosner no seminário seminário Convivência escolar e cultura de paz
Seretária de Educação de Vitória, Juliana Roshner
André Sobral
Palestra segurança nas escolas
Prefeito Lorenzo Pazolini

A construção de uma cultura de paz pressupõe que toda a escola esteja disposta a estabelecer uma relação que se realize por meio do diálogo, de ações cooperativas e participação ativa de todo o coletivo da escola, na busca por soluções e encaminhamentos para os conflitos cotidianos e a construção de valores de ética e de cidadania.

"Acreditamos que é papel de toda comunidade escolar mobilizar vivências e produções coletivas que proporcionem atitudes positivas, além de promoverem espaços de diálogo com exercício de escuta ativa e empática das crianças, estudantes e profissionais, refletindo e transformando situações adversas e conflitivas em práticas educativas inclusivas e transformadoras", afirmou a secretária de Educação de Vitória, Juliana Roshner.

Por isso, a Secretaria Municipal de Educação (Seme) promoveu o seminário "Convivência escolar e cultura de paz", com a presença da professora doutora Telma Vinha, que é uma grande referência nacional no tema, além da professora Viviane Melo, que contribuiu com a perspectiva histórica do processo de agressividade.

"Esse é um momento de construção coletiva. Não existem soluções fáceis para problemas complexos. Esse é um debate enriquecedor. O que queremos aqui é acolher, é criar o melhor ambiente possível para que os nossos estudantes possam aprender. Estamos deixando um legado importante em infraestrutura para a cidade. Mas precisamos de profissionais valorizados, que tenham tranquilidade para lecionar, que se entreguem aos estudantes. Por isso, não aderimos a nenhum tipo de solução minimalista, a nossa aposta é no diálogo, é na construção coletiva, numa cidade mais humana, com mais amor e que seja exemplo para o Brasil", enfatizou o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.

O evento reuniu diretores escolares e técnicos da Secretaria de Educação na tarde desta segunda-feira (24), no auditório Zemar Moreira Lima, da Prefeitura de Vitória.

A construção da cultura de paz

Ainda em sua fala, a secretária Juliana destacou que não se pode naturalizar a violência nas escolas, aquelas atitudes que vão desde um xingamento até uma agressão física, como também não se pode naturalizar a violência contra as escolas.

"Ninguém sabe como está o colega sentado ao lado. O colega na sala dos professores. Como estão os estudantes nas nossas salas de aula. Escolas precisam ter um currículo intencional, garantindo o trabalho de uma cultura de paz, que as emoções sejam compreendidas e respeitadas, que o currículo antirracista esteja implementado, que as diversidades sejam respeitadas. É papel da escola provocar reflexões. É preciso olhar para as crianças e para os estudantes", pontuou a gestora.

Coordenadora do Grupo de Estudos "Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública", do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a professora e pesquisadora Telma Vinha compartilhou um pouco do trabalho desenvolvido por ela e seus pares.

Ela apresentou dados da pesquisa que mapeia ataques de violência extrema contra unidades de ensino no Brasil. Nos últimos vinte anos, o grupo de estudos da Unicamp registrou 22 ataques, sendo 16 deles cometidos por estudantes e 12 por ex-alunos. "Nove desses ataques ocorreram a partir de agosto de 2022, o que mostra um aumento muito expressivo", pontuou a pesquisadora.

Segundo a professora, não há nada que explique as ocorrências em determinados endereços. "Não há nada que justifique um ataque a uma escola", afirmou. Os responsáveis pelos ataques, porém, têm um perfil. Eles são jovens brancos, do sexo masculino, com idades que variam de 10 a 25 anos. Os agressores cultuam armas, discursos de ódio e participam de comunidades virtuais mórbidas onde são acolhidos. "Eles têm características de isolamento social, com relações interpessoais muito mais online e não são populares da escola. Esse perfil corresponde muito aos ataques que ocorrem em outros países", comparou.

Diante deste cenário, o grande desafio é como construir coletivamente um espaço de acolhimento, de cuidado, de afetividade nas unidades de ensino, além de enfrentar as questões que são externas à escola, como a segurança, de fato.

"Quando se ataca uma escola, se ataca toda uma comunidade. Se ataca todas as escolas. Nós não podemos aceitar esse tipo de coisa nunca, não podemos nos curvar. O que temos que cultivar é a escuta e o acolhimento no ambiente escolar. A desradicalização dos jovens é pelos afetos. Os estudantes precisam se sentir pertencentes à escola", afirmou durante sua apresentação.

Desafio complexo

Autora do livro "Agressão Fundamentos Biopsicossociais", licenciada em Ciências Biológicas e mestra em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Viviane Melo abordou fatores biológicos, psicológicos e sociais ao falar sobre agressividade não apenas no ambiente escolar.

"Não é simples, não tem receita, são diversos os atores sociais envolvidos nesse desafio. Mas a escola é um lugar de muita fala e ainda de pouca escuta", ponderou.

Representando a Defensoria Pública do Espírito Santo, Hugo Fernandes também ressaltou a complexidade do desafio que é tratar da violência contra as unidades de ensino.

"É um seminário que faz acalento no nosso coração pelo momento que temos vivido no país. Temos tantos direitos, à vida, à educação, à proteção. É um desafio que requer parcerias. Deixamos a Defensoria Pública à disposição porque esse problema afeta a todos nós", disse.

André Sobral
professora Telma Vinha
Professora Telma Vinha
Leonardo Silveira
Viviane Melo - Palestra Convivência Escolar e Cultura de Paz
Professora Viviane Melo (ampliar)
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