Publicada em 07/05/2021, às 18h16 | Atualizada em 07/05/2021, às 18h16
Por Brunella França, com edição de Matheus Thebaldi
Estudantes voltam às salas de aula em Vitória nesta segunda-feira (10)
A espera acabou. Os estudantes estarão de volta às salas de aula das unidades de ensino da rede municipal a partir desta segunda-feira (10). O retorno presencial às escolas de Vitória é uma decisão tomada com base na ciência, a partir dos dados apresentados pela Secretaria de Saúde de Vitória (Semus), que acompanha diariamente a pandemia na capital.
O retorno será feito de forma gradual e com revezamento, com os protocolos de biossegurança já estabelecidos e adotados a partir de março. As salas de aula manterão o distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes e o professor.
Veja como fica a volta às aulas:
• 10 de maio: estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental (grupo azul);
• 17 de maio: estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental (grupo laranja);
• 17 de maio: crianças dos grupos 5 e 6 da Educação Infantil. Nos Centros Municipais de Educação Infantil (Cmei), não haverá revezamento entre as crianças.
Dessa forma, as aulas para os alunos do 6⁰ ao 9⁰ ainda não retornam à modalidade presencial.
"Segundo estudos mundiais e também por meio de diálogos com especialistas, ficou constatado que a escola é um ambiente essencial e seguro. A sociedade tem que se mobilizar para que tenhamos uma educação funcionando, seguindo todos os protocolos de biossegurança e respeitando a ciência. Não podemos deixar que nosso país regrida duas décadas no acesso à escola, como já dizem os especialistas. Nossas crianças estão tendo inúmeros prejuízos à saúde, como sedentarismo, problemas graves de comportamento, sintomas psicossomáticos como dores, diarreia, falta de sono, para citar alguns. Não podemos nos omitir, sob pena de sermos coniventes e negligentes com o processo de desenvolvimento e de aprendizado de nossas crianças", justificou o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini.
Escola segura
Os protocolos de biossegurança são os mesmos que já foram adotados em março, quando a rede de Vitória retornou com o ensino presencial. As escolas passaram por pequenas reformas e foram adaptadas para o retorno dos estudantes, com demarcação do espaço físico, respeitando 1,5 metro de distanciamento; instalação de pias e lavatórios em mais pontos da escola; instalação de totens e dispensers para álcool 70%; instalação de mais ventiladores, onde foi verificada essa necessidade; troca de torneiras em bebedouros e troca de lixeiras de tampa por lixeiras de pedal.
Além disso, houve distribuição de máscaras aos profissionais da Educação e estudantes da rede municipal de ensino assim que as atividades presenciais retornaram. Como protocolo, na entrada da escola, haverá aferição de temperatura e higienização das mãos.
“A escola não foi um foco de contágio no período que abrimos, em março. Todos os casos que ocorreram foram acompanhados pela Vigilância Sanitária. A contaminação cruzada, de uma pessoas passar para outra no mesmo ambiente, não ocorreu nas escolas após o retorno das aulas presenciais”, destacou a secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner.
Organização
Em março, quando os estudantes de Vitória retornaram às escolas, as turmas foram divididas em grupos laranja e azul para organização do revezamento, necessário para cumprir o distanciamento nas salas de aula. Quando as atividades presenciais foram suspensas por decreto do Governo do Estado, os estudantes do grupo laranja estavam nas escolas. Na segunda-feira (10), retornam, então, os estudantes do grupo azul.
O retorno presencial não será obrigatório, cabendo às famílias decidirem enviar ou não o estudante à escola. Aqueles estudantes que continuarem em casa serão atendidos pelo ensino remoto emergencial, que consiste nos conteúdos e atividades por meio da plataforma AprendeVix e outros recursos tecnológicos usados pelas escolas, ou os roteiros de estudo entregues de forma impressa.
Apoio na ciência
Entidades médicas reconhecidas pela sociedade e organismos internacionais recomendam o retorno das atividades presenciais nas escolas, a saber:
- Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES)
- Associação Médica do Espírito Santo (AMES)
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
- Sociedade Espiritossantense de Pediatria (Soespe)
- Sociedade de Infectologia do Espírito Santo (Sies)
- Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) e a Associação Médica do Espírito Santo (AMES) emitiram uma nota defendendo a educação como atividade essencial. De acordo com os médicos, as decisões em relação à reabertura das escolas devem ser embasadas em critérios técnicos e científicos e considerando, ainda, "as consequências de seu fechamento por tempo tão prolongado".
"As crianças e adolescentes, de forma geral, apresentam quadros mais brandos, com gravidade notadamente menores do que na população adulta. Estudos evidenciaram que crianças menores de 10 anos são menos susceptíveis à infecção pelo SARS-CoV-2 do que adolescentes e adultos, e há estudos mostrando que é pouco provável que crianças sejam as fontes primárias de infecção nos domicílios, contrariamente ao que se observa em outras infecções de transmissão respiratória", destaca a nota conjunta do CRM-ES e da AMES.
As duas entidades ainda ressaltam na nota pública que divulgaram que a ausência das aulas prejudica o desenvolvimento socioemocional e repercute de forma negativa no desenvolvimento de habilidades sociais que ocorrem quando crianças estão com outras crianças da mesma faixa etária, sob mediação de um adulto, no caso, o professor.
"Com os protocolos bem estabelecidos para adoção de medidas de prevenção, a escola torna-se um local seguro para os professores e funcionários, que compreendem e são completamente capazes de cumprir as medidas necessárias para a mitigação do contágio, e para as crianças. Diante do exposto, o CRM-ES e AMES se manifestam favoravelmente à reabertura das escolas e retorno das aulas presenciais e solicita que a decisão de suspensão das aulas seja reconsiderada pelas autoridades competentes".
O documento destaca alguns pontos na defesa da reabertura das escolas para as atividades presenciais.
1- Vulnerabilidade social: "Com a suspensão de aulas presenciais, crianças da rede pública estão sem merenda escolar, que muitas vezes, representa a principal refeição do dia”.
2- Violência doméstica: “Outra preocupação é com relação ao aumento dos episódios de violência doméstica contra as crianças (física, psicológica e sexual), observado desde o início da pandemia devido ao isolamento social, a mudança das rotinas familiares e insegurança econômica. As escolas e os professores são sentinelas na identificação, mediação e notificação dos casos suspeitos, tendo papel fundamental na proteção das crianças e adolescentes.”
3- Saúde mental: “Crianças e adolescentes portadoras de deficiência estão mais propensas a aumento de irritabilidade e ansiedade e suas famílias estão mais suscetíveis ao adoecimento psíquico devido o ambiente tóxico no qual estão inseridos.”
4- Saúde física: “A utilização excessiva de dispositivos de tela (celulares, tablets, computadores etc.) estão afetando o desenvolvimento neuropsíquico, a visão, a audição, o sono, a alimentação, aumenta a incidência de obesidade (devido ao sedentarismo) e dificuldade de socialização.”
Soespe e Sies
A Sociedade Espíritossantense de Pediatria (Soespe) e a Sociedade de Infectologia do Espírito Santo (Sies) recomendam o retorno às aulas presenciais para o ensino Infantil e Fundamental I, no Espírito Santo. As entidades entregaram um documento ao governo do Estado no final de abril.
"Em diferentes países a retomada das aulas não teve impacto negativo na curva de óbito quando foram adotadas medidas de controle como: monitoramento de sintomas, testagem de sintomáticos e rastreamento de contatos; distanciamento maior que 1,5m e retorno gradual em etapas. Além de medidas de higienização das mãos, etiqueta de tosse, uso de máscaras, limpeza diária do ambiente”, afirmam no documento
A Soespe e a Sies apontam ainda estudos para explicar que a taxa de transmissão entre as crianças e de crianças para professores, mesmos nos locais onde houve retorno das aulas, inclusive no Brasil, têm se mantido baixas.
"Sabemos do prejuízo que a falta do ensino presencial vem causando no desenvolvimento cognitivo e mental, o que pode prejudicar o aprendizado das crianças e adolescentes, além de alterações no humor e no comportamento, causando consequências que podem perpetuar-se por tempo muito maior do que o tempo de fechamento das escolas".
Unicef e OMS
Henrietta Fore, diretora do Unicef, o fundo das Nações Unidas para a infância, argumenta que escolas fechadas por muito tempo têm impacto devastador: as crianças ficam mais expostas à violência física e emocional, vulneráveis ao trabalho infantil e a abusos. Fore diz que fica mais difícil quebrar o ciclo da pobreza.
O Unicef afirma que quase meio bilhão de crianças não tiveram nenhuma forma de ensino à distância em 2020. Ou porque a escola não ofereceu aula virtual ou porque os alunos não tinham acesso à internet, computadores ou celulares.
No Brasil, a coordenadora do Escritório do Unicef do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, Immaculada Lopez Prieto, destacou que neste período de pandemia, as escolas precisam ser as últimas a fecharem e as primeiras a reabrirem.
Um estudo recente divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que 77.967 estudantes, com idades entre 6 e 17 anos, abandonaram os estudos no Espírito Santo em 2020.
"Nosso estudo mostrou que as crianças de seis a 10 anos foram as mais impactadas com o ensino remoto, justamente no período da alfabetização. Se a gente não reverter isso com a reabertura segura das escolas, corremos o risco de impactar toda uma geração", disse em entrevista à imprensa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a volta às aulas deve ser gradual. Três entidades ligadas à ONU, OMS, Unicef e Unesco, elaboraram um conjunto de medidas para reabrir as escolas com segurança. O documento afirma que elas só devem continuar fechadas quando não houver alternativa, que a decisão depende do nível de transmissão local, da avaliação de risco e da capacidade de adaptação das escolas.
Segundo dados informados na coletiva do Governador, na tarde desta sexta-feira, crianças de até dez anos representam apenas 1,32% do total de casos.