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Há 85 anos, Rosa Helena Schorling fazia história na aviação e no paraquedismo do Brasil

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Por Edlamara Conti (econtieira$4h064+pref.vitoria.es.gov.br), com edição de Andreza Lopes


Arquivo Público Municipal
Primeira brasileira paraquedista foi manchete do Jornal O Globo (RJ) em 1940
Primeira brasileira paraquedista foi manchete do Jornal O Globo (RJ) em 1940.
Arquivo Público Municipal
Total confiança na equipe técnica exclusivamente masculina
Total confiança na equipe técnica exclusivamente masculina

Neste sábado, dia 8 de novembro, completam 85 anos do primeiro salto de paraquedas feito por uma mulher no Brasil. Nesta data, em 1940, a capixaba Rosa Helena Schorling saltou de uma altura de 1 mil metros, no aeródromo de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e entrou para a história da aviação brasileira como um símbolo do pioneirismo feminino em um período de profundas barreiras sociais e culturais.

A história desta mulher que levou o nome do Espírito Santo aos aeroclubes do Brasil e do exterior está preservada no Arquivo Público Municipal de Vitória. Além de documentos oficiais de todos os tipos, mapas, plantas arquitetônicas e fotografias, o Arquivo Municipal mantém sob guarda 14.785 exemplares de jornais que circularam entre os séculos XIX e XX (1800 a 1979) em Vitória.

Desta forma, trajetórias de personagens de nossa terra continuam acessíveis às novas gerações e não caem no esquecimento.

Aviadora aos 19 anos

Rosa Helena Schorling nasceu em 15 de julho de 1919, em São Paulo de Biriricas, no município de Domingos Martins. Filha de João Ricardo Hermann Schorling, de origem alemã, e Rosa Wlasak Schorling, de ascendência austríaca, que mudaram-se para a região de Campinho, quando Rosa Helena, também chamada de Rosita, ainda era bebê.

Em 1939, antes de completar 20 anos, Rosita conquistou o brevê de aviadora pelo Aeroclube do Brasil, tornando-se a primeira mulher piloto do Espírito Santo e a oitava do país. Pouco depois, passou a integrar competições e demonstrações aéreas, em meio a um ambiente majoritariamente masculino.

O salto histórico

No ano seguinte, em 1940, Rosita participou da "Semana da Asa", uma das maiores celebrações aeronáuticas, organizada em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Representando o Espírito Santo, ela se destacou na prova feminina "Cruzeiro do Sul", vencendo com manobras acrobáticas de precisão.

O ponto culminante de sua carreira veio em 8 de novembro de 1940, quando realizou, diante de grande público e com cobertura da imprensa nacional, o primeiro salto de paraquedas executado por uma mulher brasileira, de uma altura aproximada de mil metros. O feito foi patrocinado pelo jornal A Noite e amplamente noticiado por veículos como O Globo, A Tribuna, A Gazeta e A Notícia.

Arquivo Público Municipal
Bilhete de Rosita, em nome do Aeroclube do Espírito Santo, ao Correio da Manhã, pela manchete
Bilhete de Rosita, em nome do Aeroclube do Espírito Santo, ao Correio da Manhã.
Arquivo Público Municipal
O título "Arrojada Aviadora" veio antes do salto histórico de 1 mil metros de altura
O título "Arrojada Aviadora" veio antes do salto histórico de 1 mil metros de altura. (ampliar)

Carreira com 136 saltos

Durante sua trajetória, Rosa Schorling realizou 136 saltos, participando de competições no Brasil e no exterior. Sua habilidade como aviadora e paraquedista rendeu homenagens de entidades civis e militares. Em 1953, a Câmara Municipal de Vitória prestou homenagem oficial à aviadora, com registro em ata e publicação no jornal A Gazeta.

Em 1957, Rosita solicitou à Prefeitura o Prêmio de Mérito Cultural, instituído pela Lei nº 7/1947, que concedia gratificação a capixabas com destaque artístico, cultural ou científico. Porém, o pedido foi indeferido, pois não havia previsão na lei para beneficiar esportes ou atividades de aviação ou paraquedismo.

Vida e museu em Domingos Martins

Além da aviação, Rosita Schorling também se dedicou à educação, atuando como professora e diretora escolar. Em 1955, retornou definitivamente para o Sítio Rosenhausen, em Domingos Martins, onde passou a viver e onde mais tarde criou um museu particular para preservar sua história e suas conquistas.

Em 1960, casou-se com o tenente reformado do Exército Brasileiro, Raymundo Mendes Albuquerque, com quem teve um filho, João Raymundo, falecido aos cinco meses de idade. Rosita permaneceu em Domingos Martins até o fim da vida.

Rosa Helena faleceu em 2017, aos 98 anos, em decorrência de complicações após uma fratura no fêmur. Sua trajetória foi registrada no livro "Rosa Helena Schorling, além da folha de vento", do jornalista Fabrício Fernandes, que reúne documentos, relatos e reportagens sobre sua contribuição à aviação e ao paraquedismo brasileiros.

Memória preservada no Arquivo Público Municipal

O documento que deu origem a esta reportagem foi o processo nº 2846/1957, em que Rosita requereu à Prefeitura de Vitória o Prêmio de Mérito Cultural. O processo administrativo, preservado há 68 anos no Arquivo Público Municipal, reúne ofícios, recortes de jornais, com manchetes e fotografias, despachos e pareceres jurídicos que reconhecem o mérito histórico da aviadora e paraquedista, que compõem um dossiê de valor histórico e simbólico inestimável.

Fontes:

Acervo do Arquivo Público Municipal de Vitória (Processos administrativos nºs 1.042/54, 3.619/55, 1.814/56, 5.319/55 e 2846/57); Wikipedia (Rosa Helena Schorling Albuquerque); A Gazeta, Vitória, ES, edições comemorativas de 2017; Fabrício Fernandes, "Rosa Helena Schorling, além da folha de vento".

Arquivo Público Municipal
Homenagem da Câmara Municipal de Vitória à Rosita Schorling em 1953
Homenagem da Câmara Municipal de Vitória à Rosita Schorling em 1953.
Arquivo Público Municipal
Rosita sendo cumprimentada pelo presidente Getúlio Vargas
Rosita sendo cumprimentada pelo presidente Getúlio Vargas.