Publicada em 11/08/2022, às 15h45 | Atualizada em 11/08/2022, às 15h55
Por Felipe Mansur, com edição de Andreza Lopes
Recuperação da restinga da Ilha do Frade começa na segunda (15)
Uma grande mobilização vai possibilitar o restabelecimento do equilíbrio ecológico na região da Ilha do Frade, a partir do plantio de mais de 5 mil mudas de plantas nativas. Como parte do Projeto Restinga, na segunda-feira (15), serão plantadas as primeiras 200 mudas, por meio de uma ação conjunta entre a Prefeitura de Vitória, a empresa Vale, a Associação dos Moradores, Proprietários e Amigos da Ilha do Frade (SAMIFRA) e o Instituto ECOMARIS. A ação tem início marcado para às 9h, na Praia das Castanheiras.
O Projeto Restinga ocorre desde abril de 2021 e tem como objetivo recuperar a vegetação nativa da região da Ilha, proporcionando mais qualidade de vida para moradores e frequentadores do local.
O apoio financeiro fica por conta da Vale e a gestão técnica e fiscalizatória da Prefeitura Municipal de Vitória. O plantio das cinco mil mudas será feito em uma área de 13 mil metros quadrados, com o cercamento protetório de trechos das praias. Entre as mudas, há bromélias, gravatás, pitangueiras e araçás, além de outras que servem de alimento, sendo necessária a remoção de árvores exóticas.
O secretário municipal de Meio Ambiente, Tarcísio Föeger, destaca que o projeto é fundamental para proteger a Baía das Tartarugas, uma Área de Proteção Ambiental (APA) rica em biodiversidade, e que o Projeto faz parte do Vixflora, programa de recuperação florestal lançado pela gestão Lorenzo Pazolini, que almeja plantar uma árvore por cada habitante da capital. "As ações de recuperação da restinga em Camburi, com a Vale, na Curva da Jurema, com a Zurich Airports e na Ilha do Frade, com a SAMIFRA, fazem parte deste programa", disse.
Além das tartarugas
"A APA Baía das Tartarugas é uma das maiores áreas de valorização ambiental que nós temos, com toda a dinâmica marinha que ela possui. Além da ocorrência das tartarugas, que dão nome à região, temos um mosaico de diferentes ambientes, incluindo a orla, a areia, costão rochoso, ilhas, a foz do Rio Camburi, tudo isso faz com que seja uma das maiores áreas de ocorrências de uma série de organismos importantes como peixes, tartarugas, golfinhos, aves e muitos outros", afirma Tarcísio.
"Recuperar essa faixa de cobertura vegetal nativa de restinga é fundamental para tornar o ambiente costeiro mais aprazível, com a vinda de animais nativos, fazendo a devida contenção da erosão eólica. A vegetação é abrigo para uma série de animais silvestres, principalmente aves que vivem nesse ambiente costeiro. Elas fazem seus ninhos nessa área de vegetação de restinga", explica o secretário.
Ele destaca ainda a necessidade de remoção de espécies exóticas: "O nome exótico é dado para espécies vegetais que não são nativas dessa região. Foram inseridas na nossa orla e arborização urbana no decorrer dos anos, mas não têm uma função importante, como pinheiros e castanheiras. Não oferecem frutos para os animais, a sombra impede que a restinga se desenvolva e há todo um efeito negativo sobre edificações, com suas raízes, entre outros".
O doutor em Recursos Naturais e gerente do Projeto Restinga, Vinícius Rocha, também considera fundamental restaurar a vegetação da região para proteger a biodiversidade da Ilha do Frade e da Baía das Tartarugas como um todo, e melhorar o local para visitação em prol da sociedade.
Biodiversidade e turismo
"O Projeto Restinga vai aumentar e integrar as áreas de praias recuperadas a todo o ecossistema da APA (Área de Proteção Ambiental), com a grande biodiversidade terrestre e marinha, ampliando as possibilidades de turismo organizado a nível local, nacional e internacional, melhorando a infraestrutura das praias para sociedade e possibilitando a ampliação de uso para sustentar populações tradicionais principalmente", explica Vinícius Rocha.
"Temos pequenos fragmentos de restinga que serão aumentados pelo projeto e isso vai ajudar a melhorar o ambiente para permitir que aumente a diversidade de aves", acrescenta o gerente do projeto.
Ele destaca, ainda, que no caso de algumas árvores exóticas, nota-se que as raízes não se fixam bem no solo e regularmente são observadas quedas de árvores, que podem causar graves acidentes e comprometer a integridade física das pessoas, na praia. são exemplares trazidos erroneamente da Austtrália, não são do ambiente natural e causam diversos prejuízos. "Elas impedem o crescimento da vegetação natural e não podem ser usadas como alimentos para os pássaros, como o sabiá-da-praia e a coruja-buraqueira, assim como emitem substância alelopática de suas folhas ao chão, o que impede o retorno da vegetação original sombreada", pontua.
Preservação das espécies
A iniciativa ambiental também vai preservar répteis e mamíferos, como o morcego e o sagui. Ainda, vai aumentar consideravelmente a área de restinga já existente na região, intensificando a barreira para as ressacas do mar e a erosão das praias, que pode piorar a qualidade para uso.
Além do impacto em terra, o Projeto Restinga tem efeitos positivos também no ambiente marinho. Afinal, as fortes chuvas e a presença de uma vegetação inadequada causam o caimento do solo que, por consequência, sujam o mar e reduzem a qualidade da água costeira.
"A quantidade de espécies marinhas que ocupam essas áreas também é afetada, em casos de mudanças de sedimentos e cor da água", complementam os técnicos do projeto.
Processo semelhante já foi realizado na Ilha do Boi e em Camburi, além de praias de outros municípios como Vila Velha, Guarapari, Serra, Aracruz e Linhares.
Vinícius ressalta a importância da colaboração entre as ONGs SAMIFRA e o Instituto ECOMARIS, juntamente com a Prefeitura de Vitória e a Vale. "A gestão ambiental completa no Brasil e no Espírito Santo têm funcionado bem com esse tripé, onde participam ativamente a sociedade civil organizada em defesa dos direitos sociais, o setor público e a iniciativa privada. Essa experiência deve ser replicada em diversas outras comunidades".
Sustentabilidade
Todo o conceito do Projeto Restinga nasceu a partir de um apelo da comunidade da Ilha do Frade, em projetos de escuta ativa e mapeamento participativo organizados pela SAMIFRA.
Segundo a presidente da associação, Talita Guimarães, o objetivo é implementar em Vitória o que, por vezes, a sociedade só vê em outros lugares.
"Queremos ser um exemplo de sustentabilidade, para que o projeto possa ser replicado em outros lugares, se adaptando às diferentes realidades", afirma. Talita ressalta, ainda, que projetos como esse só saem do papel e se tornam viáveis com a busca de parcerias.
"Por mais que o poder público tenha excelentes projetos, ele sozinho não conseguiria executar, seja por falta de recursos ou por razões burocráticas. Então fizemos parcerias. Agimos como articuladores entre todos os atores envolvidos no projeto", conta a presidente da associação.
Dia Mundial da Limpeza
O Restinga não é o primeiro processo de sensibilização ambiental junto aos moradores e frequentadores da Ilha. Entre eles há o "Dia Mundial da Limpeza" que desde 2018, no mês de setembro, voluntários realizam mutirão em busca de ruas e praias mais limpas. Devido ao sucesso, essa ação já foi adotada também em outros municípios da Grande Vitória.
Outro projeto que ainda está em fase inicial é o Ecofrade. Realizado pelo Instituto Últimos Refúgios, também em parceria com a Prefeitura de Vitória e a Vale, pelo qual o objetivo é implementar a coleta seletiva para os moradores e fazer com que usuários da praia e das praças deem destinação adequada aos resíduos.
Baía das Tartarugas
A Ilha do Frade é o "coração" da Baía das Tartarugas. Criada em 2018, é a primeira Área de Proteção Ambiental (APA) de Vitória, que vai desde o início da Praia de Camburi até a Terceira Ponte. São mais de 16 km de extensão.
O Projeto Restinga afetará positivamente essa Baía, já que ela tem o objetivo de proteger a diversidade biológica da região. "O projeto irá aumentar e integrar as áreas de praias recuperadas a todo ecossistema da APA, com grande biodiversidade terrestre e marinha", ressalta Vinícius Rocha.
Cronograma de ações
A primeira fase do Projeto Restinga foi focada em estudos, planejamento, diálogo com a comunidade, manejo inicial da vegetação e plantios simbólicos. Agora, começa a segunda fase da iniciativa ambiental.
De acordo com o cronograma, a poda de árvores exóticas e o cercamento de praias serão realizados durante todo o mês de agosto. Entre agosto e dezembro, serão realizadas atividades de plantio de mudas nativas, irrigação e limpeza. Já a manutenção será planejada para ter duração de, aproximadamente, um ano.