Publicada em 08/07/2022, às 08h00
Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes
Fazer secular das panelas de barro encanta crianças da Educação Infantil

A primeira etapa é extrair de forma sustentável e preparar a argila, retirando os grãos de areia maiores, bem como toda a matéria orgânica visível. Depois, é preciso amassar bem a matéria-prima, retirando as bolhas de ar presentes no barro, que fazem com que a panela acabe rachando ao ser queimada no fogo. Esse primeiro processo torna o material mais maleável para moldar.
Geralmente, são feitas bolas de argila para iniciar a modelagem da panela mais famosa do Espírito Santo. O trabalho é artesanal, feito à mão. Água, argila e um conhecimento de mais de 400 anos, passado de geração em geração, dão forma à panela de barro.
Após modelada, é preciso secar as peças, o que ocorre no sol, ao redor do galpão onde dezenas de artesãos trabalham. Depois de secas, as peças passam por um processo de acabamento, em que cada artesão imprime sua 'assinatura', seja numa alça diferente, numa forma mais ou menos arredondada, ou ainda na tampa.
Depois de secar, é feita a queima das panelas. É preciso levá-las ao fogo para que as panelas não se esfarelem em contato com a água após o uso. Do fogo, as panelas saem diretamente para a etapa de pintura com o tanino, tintura natural que é extraída da casca das árvores mangue. A mais utilizada é o mangue vermelho.
O artesanato das paneleiras de Goiabeiras foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em dezembro de 2002, reconhecendo como Patrimônio Cultural Brasileiro um saber que envolve a prática artesanal de fabricação de panelas de barro e conserva todas as características essenciais que a identificam com a prática dos grupos nativos das Américas, antes da chegada de europeus e africanos.
Conhecendo as paneleiras
Este saber, que resiste ao tempo, segue encantando as novas gerações e faz brilhar os olhos curiosos das crianças que visitam o Galpão das Paneleiras para conhecer bem de perto esse trabalho. As turmas do grupo 5 do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Magnólia Dias Miranda Cunha, na Ilha das Caieiras, visitaram o espaço junto com as professoras Antonia Rosa Ferreira Pereira, Geruza Correa da Conceição e Tânia Regina de Souza, além da pedagoga Cassia Ferreira da Silva.
Nas palavras da pequena Milena Cocco, que participou da visita, a certeza de que a cultura das panelas de barro seguirá por muitos séculos mais presente na cultura de Vitória e de todo o Estado.
"Quando queimou a panela para transformar a cor, pareceu uma mágica pra mim, e tem que colocar no fogo pra panela ficar dura e não vazar. Quando fez a panela, parecia massinha, mas era mais mole que massinha. O barro pra fazer as panelas é retirado do Parque Mulembá, próximo aqui da nossa escola", contou a pequena.
A visita pedagógica realizada com a turma está entre as atividades previstas do projeto "Ilha, preservar, conhecer e valorizar", desenvolvido na unidade de ensino.
"O projeto visa a ajudar na conscientização das crianças em relação à preservação do meio ambiente. Visa, ainda, a contribuir para a formação de cidadãos conscientes aptos para decidirem e atuarem diante da realidade em que o mundo vem enfrentando", explicou a pedagoga Cassia.
A visita ao Galpão das Paneleiras foi realizado numa data muito especial, porque 07 de julho é o Dia das Paneleiras, instituído por lei municipal em 1993.

Valorização do território
O bairro da Ilha das Caieiras é conhecido por ser um ponto turístico de Vitória, bastante frequentado por turistas de outros municípios e estados, mas também por moradores da capital. É um bairro tradicional, com uma imensa riqueza cultural, e que merece ser cuidado e valorizado.
Por isso, de acordo com o projeto do Cmei, despertar o interesse da criança no processo de ensino aprendizagem nos dias atuais é uma tarefa que deve dialogar com a introdução de novas tecnologias e diversas fontes de conhecimento, além do cotidiano da criança e os agentes envolvidos através de uma leitura geográfica do bairro ao estudar sobre a região do manguezal e sua relação com os moradores. Assim, é possível construir ao longo do tempo, a identidade local e novas formas de aprendizagem e a Educação Infantil de Vitória tem a premissa de estar sempre relembrando e redescobrindo conhecimentos, em diferentes perspectivas.
O objetivo geral do projeto é levar a comunidade escolar, através das crianças, a se informar e a sensibilizar-se sobre os problemas ambientais e suas possíveis soluções, buscando transformar os indivíduos em participantes das decisões de sua comunidade.
Atividades
Para a turma, o planejamento é de atividades interdisciplinares em linguagens verba e escrita, corporal, artística, matemática, ciências sociais e naturais e diversidades.
O encerramento será um mural de exposição de trabalhos relacionados à cultura local e apresentação cultural com as crianças.
"Esperamos que ao término do projeto as crianças estejam conscientes da importância de preservação e conservação do meio ambiente, levando para seu meio social todos esses aprendizados. Esperamos que elas possam valorizar a Ilha das Caieiras como seu ambiente e como parte integrante de uma sociedade, reconhecendo a região do manguezal como um ecossistema de grande valor ecológico, econômico e gastronômico", completou a pedagoga Cassia.