Publicada em 11/02/2023, às 05h35 | Atualizada em 11/02/2023, às 05h43
Por Brunella França, com edição de Matheus Thebaldi
Mocidade da Praia celebrou 75 anos de batucada em desfile no Carnaval de Vitória


Em 1947, Mestre Flores fundou a Batucada da Praia, uma história que se mistura com a do próprio bairro, a Praia do Canto, em Vitória, berço da Mocidade da Praia, que conquistou o título de campeã do Carnaval nos anos de 1981 e 1984. O enredo "Meu canto e seus encantos: o mar, batucadas e Flores, a Mocidade e todos os amores", elaborado pela comissão de carnaval formada por Wesley Denadai, Luciano de Paula, Carlito Carlos e Anclebio Junior, foi um verdadeiro canto de amor às histórias e personagens do bairro.
"Sou como uma cigarra. Toco, toco, só paro quando estourar meu coração". A citação é de Mestre Flores, resgatada pela Mocidade da Praia para seu desfile. E o que não faltou foi canto da comunidade para defender seu samba, que fez um passeio saudoso e nostálgico pelas memórias da agremiação, que teve início na Batucada.
Entre os componentes da agremiação, experiência de quem já desfilou na Marquês de Sapucaí. Nani Ferreira é porta-bandeira há 18 anos e desfila na Unidos da Ponte. Há seis anos, recebeu o convite da Mocidade da Praia para conhecer o Carnaval de Vitória e se apaixonou! "É uma delícia estar aqui, a receptividade das pessoas, o carinho, é encantador. A gente se apaixona", afirmou.
A escola entrou com um casal real à frente de sua bateria. Jorge Lisboa está no segundo ano como rei dos ritmistas. "A comunidade me convidou para ser rei de bateria porque, além de trazer o samba, sou uma pessoa simpática e extrovertida. Estava faltando a composição desse lado masculino junto com as baterias. É um complemento", ressaltou.
Estreando como rainha, Tauane Ernesto estava visivelmente emocionada. "É diferente cantar a própria história, cantar a comunidade, parece que o coração bate mais forte. Eu nasci no samba, mas cheguei à escola há pouco tempo. Era um sonho meu ser rainha e estou realizando hoje. Só tenho gratidão ao universo, vibrando alegria pela minha escola", disse.
O mar e todos os amores
O desfile começou fazendo menção ao início da história de amor entre o pescador Dondon e sua amada Dona Neném, ao nascimento do Iate Clube, suas regatas, velejadores e lazer. A comissão de frente, "É sobre amar, é sobre o mar", encenou a história de amor entre o pescador da Praia Formosa, seu Dondon, e a indígena benzedeira de Goiabeiras Velha, Dona Neném, abençoada por São Pedro, padroeiro dos pescadores.
Acompanhando o casal estavam as marisqueiras da região do Vale do Mulembá e os pescadores da praia. Com trabalho da coreógrafa Giovanna Gonzaga, o barco foi o elemento cenográfico escolhido para unir todos os componentes da comissão.
Saudando a Rainha do Mar, Edgard dos Anjos e Grasielly Cardoso, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, homenagearam Iemanjá e seus filhos em um bailado de agradecimento por aquilo que o mar proporciona e por tudo que ele representa.
Matriarcas da escola, as baianas personificavam Dona Neném, a benzedeira, seguidas da ala de pescadores representando a figura de Dondon.
O abre-alas da escola convidava a um mergulho nessa história. "Mar de pescar, mar de velejar, mar de amar". Pintando o Sambão do Povo de azul, a alegoria representava o mar de Praia Formosa, onde fica o Iate Clube, e que foi a primeira moradia do casal que conduziu o desfile.
A regata volta da Taputera, que é realizada nas águas da Baía de Vitória, fechou o primeiro setor do desfile.


Flores em todos os cantos
O segundo setor da escola contou o início da Batucada da Praia, além de passear pela história da Praia do Canto, levando para o desfile da Mocidade clubes de futebol e de natação, escolas de balé, instituições de ensino, personalidades do bairro e a padroeira, Santa Rita de Cássia.
E nada melhor para começar contando a história da batucada do que trazer a bateria da escola de samba! À frente dos ritmistas, a rainha das flores, Tauane Ernesto, ao lado do rei das flores, Jorge Lisboa, apresentavam a bateria comandada por Mestre Thuco aos foliões e aos julgadores. Os componentes representavam a Batucada que, mais tarde, deu origem à Mocidade da Praia.
A tradicional ala de passistas, "Se tem batuque na mão, tem samba no pé", levaram para a avenida as figuras das cabrochas e malandros, figuras brincantes do carnaval.
O Centenário Futebol Clube e os jogos praianos, realizados pelo Praia Tênis Clube, também passaram pela avenida nesse resgate histórico da Praia do Canto. A segunda alegoria, "O bonde da saudade", lembrou o meio de transporte que tomava as ruas da capital capixaba nos anos de 1950 e tinha como ponto final a Praia Comprida. No bonde, famílias inteiras se deslocavam para curtir um domingo de sol com suas boias de pneus de caminhão e delícias culinárias preparadas para passar o dia em frente ao mar. Nos trilhos do bonde, a agremiação saudou a boemia.
Entre as personalidades do bairro, apareceram dona Lenira Borges, professora e bailarina que já formou milhares de bailarinas na mais antiga escola de balé de Vitória, e Maurício de Oliveira, o pescador de sons e um dos maiores compositores da música capixaba.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim, Rhobson Carlos e Margarida Alcântara vestiam fantasias fazendo alusão aos antigos uniformes da tradicional Escola Primária Irmã Maria Horta, que fica no bairro. Outra escola que compôs o desfile da Mocidade da Praia foi o Colégio Sacré-Coeur de Marie. O tripé Santa Rita Padroeira, encerrando o segundo setor, era ladeado pelos 12 anjos que teriam conduzido a santa aos céus.
Minha Mocidade e outros amores
Com representações em fantasias, alegorias e adereços que remetiam aos carnavais importantes da agremiação a partir da transformação da Batucada em escola de samba, o último setor do desfile destacou também a criação do "navegador noturno" Ronaldo Nascimento, que batizou a região de bares conhecida como Triângulo das Bermudas, tradicional local de comemorações da capital capixaba.
1972 foi ano que marcou a transformação da batucada em escola de samba. O primeiro enredo apresentado no Carnaval de Vitória, em 1973, "Otinho e Rosinha", inspirou a fantasia do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade, Wagner Rangel e Nani Ferreira.
Os enredos "Zé Pereira", que marcou a escola, "O mar, suas belezas e magias", que conquistou o primeiro título, e "Cacau: de Nice a Montezuma", segundo campeonato da agremiação, também foram lembrados na avenida.
A terceira alegoria, "Partiu Triângulo, comemorar!", promoveu a carnavalização do local. É lá que os componentes da escola esperam comemorar a conquista do título do Grupo de Acesso A.

