Publicada em 29/11/2018, às 07h00
Por Melissa Künsch, com edição de Matheus Thebaldi
Mucane apresenta primeira parte de pesquisa sobre a história de Verônica da Pas

Mulher negra, médica psiquiatra, militante do movimento negro e propulsora do movimento de mulheres negras no Espírito Santo são algumas das credenciais justamente atribuídas a Verônica da Pas, uma das idealizadoras do Museu Capixaba do Negro (Mucane), equipamento da Secretaria Municipal de Cultura (Semc) que leva seu nome.
Embora seja um nome reconhecido e respeitado pela militância negra no Estado, seu trabalho e sua luta ainda não são reconhecidos pelo grande público. Para homenagear a história de Verônica, o Mucane realiza neste sábado (1º) o evento "(Re)encontrando Verônica da Pas".
A programação, que começa às 15 horas e acontece no auditório do Mucane, conta com a exibição do curta-metragem "O Papel Histórico da Mulher Negra", de Cloves Mendes; a exibição de uma entrevista da médica veiculada em 1994 no extinto programa "Nove Minutos", da TV Tribuna, e um bate-papo com a presença de seus familiares, amigos e companheiros de militância. A mediação é de Jaiara Dias.
Importância
O secretário municipal de Cultura, Francisco Grijó, exaltou a importância da luta de Verônica da Pas e do legado que ela deixou para a militância.
"Embora conhecida e reconhecida como uma importantíssima referência na comunidade negra, a importância de Verônica da Pas vai muito além da sociedade afrodescendente. Vai além também da luta das mulheres pelo respeito e pela dignidade. Sua luta é pelo ser humano e, de uma forma geral, pelo que ele representa. A Semc sente-se honrada, por meio do Mucane, em participar desse evento, que é a pesquisa sobre tão fundamental personagem de nossa recentíssima história", disse o secretário.
Pesquisa
Verônica da Pas foi a idealizadora fundamental do Mucane juntamente com membros de movimentos negros capixabas. Ele carrega 25 anos de história de luta, resistência e produção de autoestima da população negra.
Todo o trabalho da pesquisa "(Re)encontrando Verônica da Pas" é encabeçado pela equipe do Mucane. O objetivo é fazer o resgate da história da médica e montar um acervo permanente com fotos e outros registros de sua trajetória.
Segundo Thais Souto Amorim, coordenadora do Mucane, a ideia é fazer um material completo de Verônica, que morreu em 1996.
"Verônica foi quem teve a ideia de fazer o Museu Capixaba do Negro acontecer. Ela era uma figura de muito poder para a militância. Mulher negra e médica, em sua época ela já ocupava um lugar que ainda hoje é raro para mulheres negras. Por isso é importante resgatarmos a história dessa personagem da nossa história", enfatizou.
História de luta

Ela é considerada por muitos a principal responsável pela existência do Mucane. Primeira coordenadora da instituição, Maria dedicou suas melhores horas ao museu para que se tornasse um espaço de referência e de valorização da população negra.
A trajetória de luta de Verônica por uma sociedade livre de opressões, no entanto, é anterior ao Mucane. Formada em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam), em uma época na qual poucos tinham o privilégio de cursar o ensino superior, Maria Verônica abraçou a Psiquiatria e defendeu arduamente a desinstitucionalização da saúde mental.
Inconformada, a médica criticou o machismo e militou em defesa dos direitos e da saúde feminina. Na década de 1980, junto a outras companheiras, Verônica participou do primeiro grupo de mulheres negras no Espírito Santo.
Maria Verônica também participou da coordenação do Projeto Cultural Afro-Brasileiro da Sub-Reitoria Comunitária da Ufes, sendo presidente da Comissão do Centenário da Lei Áurea. Nesse cargo, organizou e coordenou várias atividades, como o Seminário Internacional da Escravidão, em 1988, na Ufes.
Além disso, foi uma das responsáveis pelo Projeto Amandla, que trouxe o líder sul-africano Nelson Mandela ao Espírito Santo na década de 1990.
Foi ainda como representante da Ufes que Verônica integrou a comissão para a criação de um museu do negro. A iniciativa foi o primeiro esforço, um pontapé dado por Pas, que, junto a outros atores, lutou para a constituição de um espaço para esse fim. A coordenação do Mucane foi assumida oficialmente por Maria Verônica em junho de 1994.
Na época, ela era funcionária pública estadual e passou a dividir seu tempo entre as atividades médicas e os afazeres do Museu.