Publicada em 06/09/2017, às 07h00
Por Leo Vais, com edição de Matheus Thebaldi
Vitória 466 anos: como a cidade se transformou e evoluiu ao longo do tempo
Eternizada como "Cidade Sol", Vitória completa 466 anos. Conhecida por suas belezas naturais, com praias e parques em toda a sua extensão, além da diversidade cultural, explícita na cultura popular por meio do congo, da torta capixaba e das paneleiras, é também uma das primeiras cidades do Brasil.
Em mais de quatro séculos e meio de existência, a cidade passou por diversos ciclos de transformação. De acordo com Achiamé, existem três momentos chave na história da capital que explicam a construção econômica e cultural da cidade.
Vila do Açúcar
"Nos três primeiros séculos – de 1550 a 1850 –, Vitória era uma pequena ‘Vila do Açúcar’, que cresceu aos poucos, com casario erguido com pedra e cal e muita madeira e paredes de estuque. Tinha naquele produto a sua principal fonte de renda e comércio".
Cidade do Café
Entre os séculos XIX e XX, acontece o desenvolvimento da indústria cafeeira e o crescimento e consolidação dos complexos industriais no município.
"De 1850 a 1950, ela se constituiu numa 'Cidade do Café', por concentrar a exportação de quase todo o interior capixaba e de muitas regiões mineiras. As edificações desse período foram construídas com tijolos maciços e cimento, no lugar dos antigos casarões coloniais, que foram derrubados".
Indústrias
"A partir dos anos 1970, Vitória se transforma aos poucos em ‘Metrópole Industrial’, por ser o centro da Região Metropolitana chamada de Grande Vitória, que conta com importantes complexos industriais e forte comércio. Novamente, partes da antiga cidade foram destruídas para, nos mesmos locais, serem edificados grandes prédios em concreto armado", contou.
Sociedade
Ao longo da história, vários grupos foram responsáveis pela construção da identidade local. Índios, portugueses, africanos e espanhóis são alguns dos povos responsáveis pela criação da identidade da capital. "É difícil, e mesmo contraproducente, concentrar em uma personagem a representação de um período histórico de Vitória. Prefiro me referir a grupamentos humanos", explicou Fernando.
"No século XVI, se distinguiram os índios, que afinal foram os primeiros habitantes da ilha, e os colonizadores portugueses e espanhóis. Houve intensas trocas culturais entre eles, que serviram para enriquecimento existencial mútuo. Os colonizadores tiraram maior proveito dessa situação por serem os dominadores. Aprenderam muito com os indígenas, que tão bem conheciam as espécies da flora e da fauna locais que podiam servir de alimento e remédio".
Evolução
O século XVII foi caracterizado pela presença dos jesuítas, que consolidaram sua administração de aldeamentos e fazendas, sob o comando do Colégio de São Tiago, atual Palácio Anchieta. Também se destaca a existência de escravos africanos empregados nos mais diversos trabalhos – lavoura, serviços urbanos e domésticos.
No século XVIII, ocorreu uma valorização dos homens de armas na capitania capixaba, governada a partir de Vitória pelos capitães-mores, chefes militares. A eles se subordinavam muitos soldados rasos. Foram construídos ou reedificados vários fortes em torno da baía de Vitória, para evitar o assalto de piratas ao ouro mineiro. A Vila Rica estava na mesma latitude da Vila de Vitória.
O século XIX pode ser dedicado aos imigrantes italianos e alemães que chegaram aos milhares na província e depois no Estado para trabalhar em pequenas propriedades e produzir café. Muitos desses imigrantes e seus descendentes se estabeleceram em Vitória como comerciantes, empregados no comércio ou em casas de família, além de prestadores de serviços variados. Também não podem ser esquecidos os grandes fazendeiros, enriquecidos também com o café.
População
A população de Vitória na primeira metade do século XX se caracterizava pela presença de comerciantes e empregados no comércio, devido ao movimento proporcionado pelo seu porto. E também, por ser a capital do Estado, muitos dos seus habitantes eram servidores públicos, sendo uma pequena elite composta de funcionários graduados.
Na segunda metade do século passado, e que se prolonga para os primeiros anos do século atual, a população de Vitória cresceu muito e nela se distinguem um grupo de grandes comerciantes e industriais e um contingente significativo de trabalhadores nas indústrias e no comércio da Grande Vitória, além de muitos servidores públicos e pequenos empreendedores.
* Fernando Achiamé é arquivista, historiador, pesquisador associado do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo – Neples/Ufes e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. É pós-graduado em Arquivologia e mestre em História Social das Relações Políticas, pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
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