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Autor de "Fiel" conta experiências da periferia a alunos no Seminário Estudantil

Publicada em

Por Carmem Tristão, com edição de SEGOV/SUB-COM


Imagem divulgação
Jessé Andarilho - Fiel
Livro “Fiel” conta a história da vertiginosa ascensão e a queda de um menino no tráfico carioca

Ele já fez de tudo na vida. Abriu um lava-jato na favela e, quando não tinha serviço, usava as mangueiras para lavar cachorro, tapete e sofá. Abriu uma lan house com computadores doados pelo governo e que foram revendidos para ele a preço de banana pelos moradores. Uma lojinha de consertos de celular, uma ONG para ensinar judô aos meninos da comunidade . E também quase entrou para o crime.

Essa é a história de vida do carioca Jessé Andarilho, autor do livro “Fiel”, que estará em Vitória nesta terça-feira (26) como convidado especial do Seminário de Mobilização Estudantil , no Centro de Convenções de Vitória, em Santa Lúcia, a partir das 8 horas. Na ocasião, ele vai compartilhar sua história para os 400 participantes do evento, que segue a diretriz do programa Educação Ampliada da Prefeitura de Vitória, e relatar que só não se afundou na criminalidade porque foi resgatado pela arte.

Baseado em experiências reais que aconteceram com o autor, seus amigos e conhecidos, “Fiel” conta a história da vertiginosa ascensão e a queda de um menino no tráfico carioca. É o primeiro romance do carioca, de 33 anos, e fala também da vida de centenas de jovens das periferias, favelas e comunidades das grandes metrópoles. A obra foi escrita pelo autor nas teclas de um celular para ocupar o tempo que passava dentro do trem a caminho de casa para o trabalho e vice-versa, muitas vezes em pé.

Crítica

"Fiel" já conquistou a atenção e os elogios do rapper e escritor MV Bill. "A vida de 'Fiel' não é fácil. Quando a chapa esquenta, é ele quem segura o rojão e fica no olho do furacão, pois o patrão está longe. O livro retrata fielmente a realidade vivida em muitas favelas do Brasil. A escrita é interna, vinda de um cara que viveu ali, bem de perto, e só não se afundou na criminalidade porque foi resgatado pela arte", disse MV Bill.

"Esse frenético romance é prova cabal de que a capacidade criativa e empreendedora do povo carioca chegou à literatura, depois de passagens exitosas pela música, pelo teatro e pelo cinema", escreveu o jornalista e também escritor Julio Ludemir, um dos idealizadores da Flupp, a Festa Literária das Periferias. "Jessé rompeu os grilhões do gueto para produzir um livro que nos liberta", completou Ludemir.

Fiel

A história do "Fiel", que é o personagem principal do livro, é um pouco a história do próprio Jessé e das pessoas com quem ele conviveu e conheceu na favela. O livro narra a história de Felipe, que se torna logo cedo o 'fiel' da favela.

Ele é o cara que faz tudo para o chefão do tráfico, mas ninguém sabe quem ele é. Esses garotos são recrutados na própria comunidade e geralmente têm “ficha limpa”: estudam, são considerados meninos direitos, por isso ninguém desconfia quem é o fiel.

Felipe lê "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, torna-se um grande estrategista, ajuda na invasão do Morro da Promessa, conquista uma menina marrenta, afasta-se da família depois que entra para o crime, começa a consumir drogas e aí vem a decadência. "O livro é bem simples, linguagem direta, e tem muita verdade. A história é clássica, mas o jeito que o Jessé conta é bem legal. Achamos que ele tem força, que ele fala diretamente com cada um de nós", avaliou a coordenadora da Editora Objetiva, Débora Fully.

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Jessé Andarilho
Jessé Andarilho escreveu o livro no celular durante as viagens de trem

Jessé Andarilho

Nascido no Rio de Janeiro em 1981, no bairro do Lins, Jessé foi criado em Antares, filho de um cantor amador com uma confeiteira de sonhos (o doce, claro). O pai chegou a ganhar o concurso de calouros do Chacrinha, mas gastou o prêmio em uma só tarde, quando resolveu pagar a conta de todo mundo num bar em frente à rede Globo.

Seu interesse pela literatura e pela escrita começou por acaso, quando ganhou de presente o livro "Zona de Guerra", de Marcos Lopes. Saiu dizendo para todo mundo que tinha muitas histórias como as do livro para contar. Até que ouviu de um amigo: "Tem história melhor que a do cara, então vai lá e escreve!". Jessé não pensou duas vezes e aceitou o desafio. Ele escreveu o livro todo no trem, em pé, digitando no celular. Quando o trem esvaziava e ele conseguia sentar, passava a limpo o que tinha escrito num caderno. Assim nasceu o "Fiel".


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