Publicada em 07/03/2022, às 16h20 | Atualizada em 07/03/2022, às 16h31
Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes
De volta à escola: estudante da EJA retornou às aulas devido à busca ativa

Na infância, muitas mudanças da família fizeram com que Kleidiane Amaral Dias, 38 anos, frequentasse as aulas apenas até o 5º ano do Ensino Fundamental. Em 2019, movida pela vontade de fazer um curso de berçarista e incentivada por colegas de trabalho, a auxiliar de serviços gerais fez a matrícula na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Vitória, na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Francisco Lacerda de Aguiar, em São Pedro.
Desde então, por duas vezes, ela se afastou da escola. Primeiro, por conta de uma gravidez. Depois, devido à pandemia. Foi o trabalho de busca ativa e o carinho da equipe da EJA na unidade de ensino quem levou Kleidiane de volta à sala de aula e, mais que o curso de berçarista, hoje ela sonha em cursar a faculdade de Pedagogia.
"Eu sou auxiliar de serviços gerais, trabalho em uma escola. Na igreja, também trabalho com crianças. Foi de lá que eu tive vontade de fazer o curso de berçarista. Mas, quando fui fazer a minha matrícula, me disseram que eu tinha que completar pelo menos o ensino básico e eu não tinha, parei de estudar na 5ª série", contou ela.
Atualmente, Kleidiane está no primeiro ciclo do segundo segmento da EJA, iniciando o que seria correspondente aos anos finais do Ensino Fundamental.
"As professoras da escola, a pedagoga, o diretor antes, a diretora de agora, todos, todos mesmo, sempre me apoiaram, sempre me incentivaram. Eu sinto assim que eles não desistiram de mim. Nem depois que eu ganhei a minha neném, nem quando começou essa pandemia. Sempre me ligavam, mandavam mensagem, as professoras mandavam atividade até no meu zap. E isso me fez seguir, fez eu continuar, me deu vontade de ficar. Hoje, eu estou na sala de aula", disse a estudante.
Afeto, presença e sonho
Kleidiane percebe mudanças no dia a dia, em tarefas que ela passou a fazer, após a frequência nas aulas. A ida ao mercado, por exemplo, ou à feira, agora é feita de maneira mais independente e confiante.
"A questão de matemática me ajuda muito, mudou muito. No ano de 2020, com 36 anos, eu não sabia direito as notas de dinheiro. Foi na escola que comecei a saber a separar as notas, a contar, a diminuir, a questão do troco. Isso me ajuda no meu dia a dia", destacou.
A expectativa para o próximo ano é concluir o ciclo na EJA e seguir estudando. Kleidiane já pensa em, no futuro, chegar à faculdade. Pela afinidade com crianças, o curso escolhido é o de Pedagogia.
"A escola me ajuda muito. A pedagoga sempre me ajudou muito. Esse ano mesmo, ela me mandou mensagens, ligou, informando quando as aulas voltaram, dizendo que esperava me ver de novo na escola. Eles dão muita atenção, conversam. E, como eu quero fazer o curso de berçarista, eu tenho que me esforçar. A expectativa é me formar no ano que vem. Quem sabe, depois eu possa fazer um curso de Pedagogia, que trabalha com criança, que é algo que eu gosto muito", afirmou.

Busca ativa
Em 2021, por meio do trabalho de busca ativa feito na rede municipal de ensino, 3.589 estudantes que estavam afastados da escola retornaram para as salas de aula.
As equipes utilizaram diversas estratégias para alcançar famílias, no caso do Ensino Fundamental, e os próprios estudantes, no caso da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
"A busca ativa é extremamente importante. É por meio desse processo que localizamos nosso estudante e identificamos as dificuldades para o seu retorno à escola. Agendamos uma conversa para possível encaminhamento do estudante ao apoio que necessita. Quando não é estabelecido o contato direto com os estudantes ou familiares por telefone, tentamos localizá-los nos Centros de Referência da Assistência Social (Cras), pronto-atendimento. Já houve casos em que a coordenação foi à casa dos estudantes", contou a pedagoga Nicea de Souza Martins.
Acolhimento
Profissional da rede de Vitória, ela atua na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Francisco Lacerda de Aguiar, em São Pedro, na Educação de Jovens e Adultos.
"Acreditamos que uma conversa acolhedora e sensível às dificuldades dos estudantes é um momento decisivo para restabelecer o vínculo dos estudantes com a escola. Algumas vezes, é preciso informar aos estudantes as alternativas possíveis para seu retorno às aulas, como prazos, atividades extraclasses para compensação de faltas, recuperação, projetos de retorno e outros", pontuou Nicea.
NA EJA, o objetivo da busca ativa, para além do retorno do estudante às aulas, é manter o vínculo com a escola. Apenas na Emef Francisco Lacerda de Aguiar, em 2021, foram 50 estudantes jovens e adultos que voltaram às salas de aula após o trabalho de busca ativa da equipe.