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Mucane recebe livros de Lima Barreto ilustrados por artista capixaba
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Por Ricardo Aiolfi, com edição de Matheus Thebaldi

O coletivo editorial Brota doou cinco exemplares do livro "Diário do Hospício", do autor Lima Barreto, ao Museu Capixaba do Negro (Mucane). A obra foi ilustrada pelo artista capixaba Luciano Feijão.
A obra foi lançada na última semana pelo coletivo editorial Borda. No aniversário de 100 anos do texto, a iniciativa editorial propõe diálogo sobre negritude e saúde mental por meio da obra do artista capixaba.
A edição tem como diferencial a proposição de diálogos entre o texto e a obra visual do artista e ilustrador capixaba Luciano Feijão, complementada pelos comentários de Júlia Carvalho, psicóloga e pesquisadora do campo da saúde mental e da luta antimanicomial no Brasil.
Os registros de Lima Barreto pelas internações são estudadas por muitos autores e pesquisadores brasileiros que buscam entender melhor não apenas a vida e a obra de Lima Barreto, mas a história e os processos da negritude, das instituições psiquiátricas e dos diagnósticos no Brasil.
Debate
Nesta quinta-feira (18), haverá um bate-papo com a psicóloga que assina o posfácio, Júlia Carvalho. Durante este mês, ainda, Luciano Feijão produzirá uma série de vídeos sobre seu processo criativo.
Diário do Hospício
Em fevereiro de 1920, Afonso Henriques de Lima Barreto saía, pela segunda vez, de uma internação em uma instituição psiquiátrica. Desta vez, no Hospital Nacional de Alienados, após um diagnóstico de “alcoolismo”.
Durante esta segunda internação, Lima Barreto fez diversas anotações, a lápis e em fragmentos de papel sobre o cotidiano da instituição e as pessoas que ali trabalhavam e residiam.
Posteriormente, utilizou essas notas para iniciar um romance, Cemitério dos Vivos, que ficou inacabado após a morte do autor em 1922. O primeiro biógrafo de Lima Barreto, Francisco de Assis Barbosa, reuniu estas notas e as organizou em um volume, que chamou “Diário do Hospício”.
Feijão

Luciano Feijão nasceu em Vitória e é professor, artista e ilustrador. Suas duas últimas exposições foram dedicadas aos temas étnicorraciais, evidenciando a população negra em contraponto à estigmatização e às formas de aniquilamento.
Seu trabalho tem como principal característica a forte expressividade gestual, a densidade das formas e as experiências com ferramentas alternativas. Sua pesquisa atual, intitulada Antianatomia, consiste em discutir, pela via do desenho, as práticas racistas aliadas a políticas cientificistas.
Em 2016, Feijão expôs "Torções" no Mucane. A mostra, contemplada pelo primeiro edital de ocupação e premiação do Mucane, reúne 30 desenhos produzidos em carvão, cortes de estilete e guache sobre papel em diferentes formatos e propõe uma reflexão estética e política para problematizar a forma como mulheres e homens negros são retratados na história, evidenciando, como contraponto radical, marcas, intervenções e potencialidades do corpo.
Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Lima foi jornalista e escritor com uma vasta obra publicada, dentre romances, sátiras, contos, crônicas, entre outros. Dentre suas obras mais conhecidas, está Triste Fim de Policarpo Quaresma. Por diversas vezes, o escritor foi internado em hospitais psiquiátricos.
Esses períodos de internação resultaram na composição de diversos diários e no romance inacabado Cemitério dos Vivos. Lima Barreto faleceu em novembro de 1922, aos 41 anos.