Imprensa
Mulheres na Educação: profissionais inspiradoras que atuam na rede de ensino
Publicada em | Atualizada em
Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes

A educação de Vitória é feita por mulheres. De 6.440 servidores que atuam na rede municipal de ensino, 5.422 são mulheres: em cargos de gestão, nas salas de aula, em coordenações, nas bibliotecas, em todos os espaços, nas unidades de ensino, nos Centros de Ciência, Educação e Cultura (CCEC), elas estão presentes e fazem a diferença, impactando a vida de 41.930 crianças e estudantes matriculados.
Entre tantas profissionais, está a professora Kelly Cristina Ferreira. Na rede há 15 anos, já atuou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Adilson da Silva Castro, em Monte Belo, na Emef Lenir Borlot, em São Pedro, e atualmente na Emef Alvimar Silva, em Santo Antônio.
No fim do ano passado, a professora Kelly foi campeã do I Torneio Municipal de Robótica com os estudantes do 8º e 9º ano da Emef Alvimar Silva.
"Para mim ser uma mulher profissional da educação é ser resiliente, é ter força todos os dias para enfrentar as dificuldades encontradas dentro do ambiente escolar, disposição para superar encontrando soluções para minimizar os efeitos, entregando o melhor para o meu estudante, sem ferir meus direitos e os dele. Desta forma ofereço um ensino de qualidade que acredito e defendo", destacou.
A professora explicou que o projeto de robótica educativa tem como objetivo promover o desenvolvimento de habilidades e competências, por meio do acesso à cultura digital e assim como o trabalho colaborativo.
"O impacto sobre o meu trabalho foi valoroso, pois a partir dessas possibilidades consegui aproximar e desenvolver em meus alunos as habilidades essenciais para um mundo em constante transformação, promovendo experiências significativas e prazerosa de aprendizagens, inserindo-os no mundo digital e estimulando-os a serem proativos em seu processo de aprendizagem. Além de inspirar e mostrar que é possível as mulheres atuarem no campo da robótica, da tecnologia, área essa que tem sido dominada pelos homens", disse.
Para ser uma mulher inspiradora, ela teve também a inspiração de outras mulheres. "Minha mãe, por sua garra. Alessandra Ghidetti, minha parceira de trabalho, professora da rede extremamente comprometida com a educação pública. Débora Garofalo, por sua competência e exemplo de professora de escola pública. Sílvia Silva da Costa Botelho, por seu trabalho na área da Robótica", listou.

Escrita potente
Integrante da Comissão de Estudos Afro-brasileiros (Ceafro) e da Comissão de Educação das Relações Étnico-Raciais (Cerer) da Seme, a professora Noélia Miranda é autora das seguintes obras: "Zacimba Gaba, princesa guerreira: a história que não te contaram", lançado em 2015 e ilustrado por Gió Araújo; "Zabelê, o Pássaro Encantado", que escreveu com Paulo Tássio Borges, lançado em 2020; "Zacimbinha - Princesa, Sapeca e Guerreira" (2021) e "Natalino, pretinho pretinho" (2021). Para este ano, está no forno "João, o menino que criava brinquedos".
Também escreveu junto a outras 19 colaboradoras o livro: "De Zacimbas a Suelys - Coletânea Afro-Tons de Expressões Artísticas de Mulheres Negras no Espírito Santo", publicado em 2017. E é ainda compositora de cinco músicas gravadas e anexadas no livro: "Mirandinha, a menina que queria pegar uma estrela", do autor e ilustrador Gió Araújo.
Por seu trabalho, recebeu os prêmios "Professora Olga Borges", em 2009, e duas vezes em 2015, por desenvolver projetos antirracismo em escolas públicas. Recebeu homenagens pelos trabalhos prestados aos municípios de Cariacica (2015) e Vitória (2017). Em 2018, recebeu da UNEGRO-ES, homenagem ao Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.
"Ser mulher na Educação parece ser algo normal, devido à nossa categoria profissional ter maioria mulheres, historicamente os dados mostram que somos maioria. Eu fico me perguntando quais motivos levam as mulheres ao espaço da educação? Não temos uma resposta, mas creio que tem haver com nosso desejo de cuidar do mundo, melhorar o país, uma espécie de sororidade coletiva, que talvez, mesmo sem darmos conta desse sentimento, o desejo ainda é de cuidar, educar a aldeia. Educar meninos e meninas para que possam ser cidadãos e cidadãs livres, responsáveis e com conhecimentos diversos para o bem de todos", considerou.
Como escritora de literatura negra pensando o público infantil e infantojuvenil, Noélia disse que tenta preencher lacunas deixadas na história da literatura, antes, canônica, eurocêntrica, hegemônica, que apresentava a maneira única de ser e estar no mundo, ou seja, sendo uma pessoa branca. Um mundo branco para crianças diversas, o que para ela significa uma violência na construção das identidades de crianças negras, por exemplo.
"A falta de representatividade, a invisibilidade das narrativas e ausência das culturas de povos negros e indígenas colaborou e ainda colabora com o apagamento social dessas etnias, parece ser algo fácil de debater, mas não é, pois estamos falando de relações de poder, de práticas e política de silenciamento. Apagar histórias negras e indígenas é um dos passos para a morte desses povos, a morte dos conhecimentos, das ciências, das culturas é uma forma da colonialidade, um modo de operar a sociedade tratando negros e indígenas com reflexos no Brasil colônia, dizer que nós não existimos, assim não precisamos de escola, de mobilidade social, de políticas públicas, e matando nossas culturas e narrativas, todo resto é fácil, na lógica da colonialidade. A literatura negra tem esse potencial aliado a outras práticas e políticas públicas antirracistas", destacou.
E se Noélia é inspiração para outras profissionais, ela também tem outras mulheres que a inspiram, sobretudo no Movimento Negro Unificado (MNU), dentro do qual tem dificuldade de citar nomes. "Os movimentos sociais têm esses poderes, de juntar mulheres poderosas, mas a primeira mulher da minha vida, minha mãe que me pariu, senhora Devany, uma mulher pataxó que órfã ao nascer, superou dores, doenças e criou os filhos com tanta peleja, ela me enche de orgulho, hoje com seus 66 anos. No mundo da literatura negra, tenho duas inspirações que são a Conceição Evaristo, que me ensina a importância das nossas escrevivências, e Sônia Rosa, escritora de literatura negra afetiva", contou.

Campeã
Atleta desde a adolescência, a professora Lígia Fonseca atua na rede de Vitória há 28 anos. Especialista em Tecnologias Educacionais, está atualmente no Laboratório de informática da Emef em Tempo Integral Anacleta Schneider Lucas, na Fonte Grande, mas já trabalhou em diversas unidades de ensino, dentre elas a Emef Marechal Mascarenhas de Moraes, em Maria Ortiz, e Adevalni Sysesmundo Ferreira de Azevedo, em Jardim Camburi.
Ela é faixa preta 5º dan de Karatê. Iniciou no Karatê aos 11 anos de idade e possui títulos estaduais, nacionais e internacionais. Dentre eles, Campeã Brasileira, Campeã do Open Internacional Arnold Classic Brazil e Campeã Sul-americana. A maioria dos títulos foram na modalidade KATA (luta imaginária).
Uma característica da professora e atleta é sempre encorajar as pessoas a nunca desistir. "Essa talvez seja uma das minhas características mais marcantes dentro da minha prática", contou.
Para a professora Lígia, ser mulher, atleta e profissional da educação significa ter a honra de poder contribuir para o futuro de inúmeros jovens.
"O esporte foi um dos pilares responsáveis pela minha formação como pessoa e impacta diretamente na minha prática profissional. Primeiro porque me ajudou a perder a timidez de falar em público, por prezar pelo planejamento das minhas ações, resultado da disciplina do esporte e treinamento, também pela questão do raciocínio rápido diante de situações inesperadas e que exijam decisões rápidas e também pelo uso do bom senso. Talvez seja um exemplo para os alunos pela forma respeitosa com a qual procuro tratá-los", destacou.
Como mulheres inspiradoras, a educadora citou Anne Frank, Cecília Meireles e Tarsila do Amaral.