Publicada em 15/12/2021, às 09h00

Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes

Quebrando padrões: projeto aborda o preconceito contra pessoas gordas na escola


Foto Divulgação
Emef MSN quebrando padrões

“Eu aprendi que devemos respeitar os colegas. Não importa se é gordo, magro, negro ou branco. Eu gostei muito do livro Carlota Bolota, que fala sobre uma menina que sofria bullying por ser gorda. Não podemos julgar a aparência dos outros.” Este depoimento é de Manuela Salgado Machado, 11 anos, estudante do 5º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maria Stella de Noaves, que fica no bairro Grande Vitória. A turma dela, que tem 27 estudantes, junto com a professora Anna Erzilia Caetano Camilo, desenvolveu o projeto “Quebrando padrões: gordofobia”.

A ideia para o projeto, conta a professora, surgiu em um curso de formação para os profissionais da educação. O tema, porém, foi escolhido a partir da vivência na sala de aula ao longo do tempo.

“Quantas crianças, por serem gordas, são discriminadas o tempo todo em função de um padrão de beleza, ditado pela indústria da beleza, da moda, farmacêutica? E aqueles que estão fora desse ‘padrão’ não são aceitos e muitos tentam de tudo para alcançá-lo, pagando altos preços por isso. Outros sofrem com a discriminação, o preconceito, acarretando graves problemas, como distúrbios alimentares, depressão. E, como vimos em relatos, até ao suicídio. O objetivo não é fazer apologia à gordura, mas respeitar as diversidades de corpos”, destacou Anna Erzilia.

Aprendizados

“Durante as nossas aulas, nós juntamente com a professora Anna, trabalhamos sobre gordofobia. Para mim foi uma das aulas mais legais. Nós trabalhamos várias coisas, como o livro da Carlota Bolota, bullying, gordofobia e não menos importante a nossa história em quadrinhos. Eu espero fazer muito mais coisas sobre isso. Enfim como dizem, precisamos estudar para ser alguém na vida.” Foi assim que o estudante Bruno Gustavo Baptista, 12 anos, avaliou as atividades realizadas com a turma.

“Durante nossas aulas, muitas discussões foram feitas e ouvimos relatos de crianças que sofreram bullying na escola, inclusive pelo peso. O envolvimento da turma a cada aula foi fantástico, participando das discussões, com relatos pessoais, não demonstrando constrangimento em dizer o que se passou com elas,” contou a professora.

Temas como empatia, criticidade e respeito à diversidade foram trabalhados o tempo todo com a turma. Para a professora Anna Erzilia, a mudança de comportamento é nítida.

“Opiniões diversas são expostas e ouvidas com respeito. Quando eles acham que falaram algo e não foi legal, já se auto corrigem logo, ‘opa, fui mal, profe’”, disse.

Fazendo a diferença

Em uma das rodas de conversa com a turma, um estudante compartilhou que, desde a Educação Infantil, era chamado de “Baleia”. Quando questionado sobre o que fazia diante da agressão, ele dizia que apenas saía de perto, pois já estava acostumado.

A professora então insistiu para que o estudante dissesse o que sentia. Ele respondeu que ficava muito triste, às vezes chorava. Diante do relato, Anna Erzilia pediu que todos os demais se colocassem no lugar do coleguinha. “Foi o primeiro momento em que trabalhamos o vocábulo empatia, mostrando na prática o seu significado,” pontuou.

O trabalho realizado em sala de aula está reverberando também fora dos muros da escola. Uma mãe mandou para o Whatsapp da professora o seguinte depoimento sobre o comportamento do filho: “Professora Anna, como conversamos vim relatar que meu filho teve uma evolução muito grande esse ano, não tem chorado mais sem motivo, antes ele reclamava muito que chamavam ele de chorão, e ele chorava mesmo, hoje ele está mais firme, decidido, mais feliz, comunicativo.”

As atividades

O percurso do projeto começou com a leitura do livro “Carlota Bolota”, de Cristina Porto. A partir daí, a professora com os estudantes realizaram a leitura de textos informativos sobre bullying, gordofobia e relatos de vítimas de do preconceito contra pessoas gordas.

Na sala de aula, foram feitas rodas de conversa para discussão dos temas abordados, além da aplicação de questionários buscando informações dos estudantes sobre suas experiências pessoais em relação ao bullying de um modo geral e também especificamente ao bullying gordofóbico.

A turma ainda assistiu ao vídeo com o depoimento da Miss Mundo Pluz Size, Nina Souza, compartilhando todo o preconceito enfrentado em relação ao seu corpo e como superou tal situação. A atividade de fechamento foi a criação coletiva do texto “Corpos gordos importam!”, transformado em quadrinhos por um estudante da própria turma.

“Neste ano, a professora Anna trabalhou com a gente um projeto chamado Quebrando padrões: Gordofobia. A gente começou lendo a história de Carlota Bolota, depois textos relacionados ao bullying e à gordofobia. Esta experiência foi muito legal porque a gente ensina e aprende ao mesmo tempo. É muito massa,” relatou a estudante Letícia Silva Spairani, 10 anos.

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