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Emef de São Pedro comemora 32 anos e resgata história de luta da comunidade
Publicada em
Por Carmem Tristão, com edição de Matheus Thebaldi


Muita alegria e emoção marcaram esta última segunda-feira (30) na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Francisco Lacerda de Aguiar, em São Pedro, na comemoração dos 32 anos da unidade. O dia contou com apresentação da música "Água" pelo coral dos alunos dos 4º e 5º anos, recital de poesia dos alunos dos 2º e 3º anos, apresentação do Banda de Congo Mirim do Projeto Manguer e, claro, bolo de aniversário.
Estiveram presentes ex-alunos, ex-professores, lideranças comunitárias e também famílias e comunidade. "No início, essa escola, em especial, lutava por oito salas de aula e, hoje, possui 30 turmas, incluindo a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA). Isso mostra que as pessoas, além de terem consciência do direito à educação, querem estudar porque sabem reconhecer que é o caminho da escola que dá condições de construir um projeto de vida", disse a secretária municipal de Educação, Adriana Sperandio.
"Para mim, é muito importante comemorar o aniversário dessa escola como aluna. Essa escola tem uma história muito forte. Fico feliz por eu e meus primos, que também estudam aqui, fazermos parte disso", disse Eliza de Souza Pinto, aluna do 6º ano.
"Estamos aqui há 15 anos e sempre vamos ser parceiros. Toda vez que ouço a história dessa escola eu me emociono, tanto que fiz um filme dessa região com jovens daqui", disse o líder comunitário Fábio Carvalho, referindo-se ao curta "O grito do povo", que conta a história da Emef Francisco Lacerda de Aguiar.
Futuro
"Me emociono quando vejo alunos questionarem por que sábado e domingo não há aula. Pergunto a eles por que querem vir para a escola até no final de semana e obtenho como resposta: 'porque eu gosto de estudar'. Cheguei aqui com 12 anos de idade, e digo que essa é a escola do meu coração. Eu ganho aqui o meu pão de cada dia, eu trabalho com entusiasmo porque quero ver cada menino desse com um futuro melhor, um cidadão, uma cidadã de verdade", contou o diretor da Emef, Elizeu Moreira dos Santos.


História
Início de 1983. Em meio ao abandono, às cores e cheiros da pobreza e do lixo, o povo de São Pedro deu um grito. O direito à educação seria garantido, mesmo que na marra. Lutaram, fizeram manifestações e, ainda assim, não foram atendidos.
A saída encontrada pela comunidade, então, foi construir com suas próprias mãos aquilo com que há anos sonhava: uma escola. Uma Comissão de Educação foi formada e começou a estudar como seria a proposta pedagógica do colégio. Buscavam-se nas obras de Paulo Freire teorias que poderiam se tornar práticas. Em constantes reuniões, as teorias eram levadas pela comissão à comunidade, enquanto essa explicava como queria a escola. Dessas reuniões nasceram as principais diretrizes que iriam reger a democracia interna da instituição popular.
Quando se deram conta, dois cômodos da pequena sede do Movimento Comunitário haviam se tornado salas de aula. Moradores tinham construído bancos, quadros e todas as coisas minimamente necessárias para as aulas. Mães com alguma experiência em educação se tornaram professoras, e alunos já estavam matriculados na "Escola Grito do Povo", nome definido pelos próprios moradores.
A escola começou a ganhar destaque nacional, o que chamou a atenção da Prefeitura, que se comprometeu a entregar uma Escola Municipal de Ensino Fundamental para a comunidade. Em outubro de 1983, quando o prédio da nova escola ficou pronto, o nome Grito do Povo foi substituído por Francisco Lacerda de Aguiar, um ex-governador do Espírito Santo, que havia falecido naquele ano.
"Outras tantas mudanças vieram, mas o DNA de luta, fé e união permaneceu vivo em cada célula do povo de São Pedro", escreveu Graça Andreata, em seu livro “Na Lama Prometida, a Redenção”, publicado em 1987.

