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Estudantes fazem curadoria de obras de arte e montam exposição
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Por Brunella França, com edição de Andreza Lopes
O corredor virou galeria. Com montagem de exposição, obras identificadas, nomes dos artistas, técnica utilizada, texto de curadoria e ficha técnica. Familiares, turmas da própria escola e visitantes de outras unidades de ensino são recebidos por monitores atentos, que passeiam pela exposição explicando técnicas artísticas, composição e permitindo a cada um o próprio entendimento sobre a exposição "A cor importa?"
O trabalho é da turma do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Experimental de Vitória Ufes, sob orientação das professoras Julliana Amorim e Julia Rocha, com a pesquisadora em Arte Stéfany Pereira da Silva.
"Os estudantes que criaram a proposta e construíram um meio de articular todas as obras, seja na proposta artística, seja na discussão social. Essa com certeza é uma experiência que ressignifica a arte para esses estudantes. Eles conseguiram fazer diálogos com todas as obras. E desde o início, eles vieram cheios de perguntas para construir uma proposta que é acessível para as crianças e para as famílias também", contou Stéfany.
A professora de Arte Julliana Amorim estava emocionada ao ver a turma recebendo os visitantes, com os estudantes do 9º ano realizando a monitoria educativa da exposição.
"Eles estavam vindo do contexto da pandemia muito desacreditados, se perguntando se dariam conta da escola. E assumi esse papel de fortalecer a autoestima deles, de trabalhar as potencialidades através da disciplina. Estamos criando memórias afetivas aqui. É emocionante ver isso", disse.
São obras de seis artistas do Espírito Santo em exposição: Bianca Corona, Geovani Lima, Júlia Ramalho, Luciano Feijão, Renato Ren e Rick Rodrigues.
A cor importa?
"Obras de arte têm o poder de nos levar a outra dimensão, assim como os nossos pensamentos podem nos levar a lugares inacreditáveis. Você pode sentir? Somos feitos de cores, mas será que essas cores realmente importam? Nossas cores definem quem somos? São tantas perguntas que atravessam esse tema que talvez não seja possível responder a todas elas."
Assim inicia o texto da curadoria, disponível no primeiro painel da exposição. Para você, a cor importa?
"A professora de Arte trouxe essa proposta, ela conheceu a turma e trouxe ideias. Está sendo uma experiência muito boa. Pra mim, na sociedade, a cor não importa, não deveria importar, se a pessoa é negra ou branca", respondeu o estudante Luis Gabriel Oliveira.
"A gente ajudou a colocar as obras, deu um pouquinho de trabalho, mas foi bem divertido. Na Arte, a cor significa muitas coisas", disse a estudante Thamires Araújo.
Membro da equipe de curadoria e também da turma do 9º ano, Denise Costa estava orgulhosa de todo o processo de montagem da exposição, desde o início, quando o trabalho foi iniciado.
"No início a gente ficou confuso, porque a gente nunca teve oportunidade de mexer com obras de arte. Mas foi bem legal. A gente pensou muito sobre as cores, a questão racial, a gente pensou bastante nisso porque pra muitas pessoas a cor faz diferença e em diversos contextos. Por exemplo, a experiência das crianças com as cores é diferente, elas não conhecem ainda essas regras de que uma árvore tem que ser verde e marrom, por isso elas usam outras cores quando fazem uma pintura", destacou.
Luiz Carlos Barreto, pai e advogado, fez questão de ir até a escola prestigiar a atividade.
"Excelente a explicação dos estudantes acompanhando a gente pelas obras. Estou encantado e vendo da minha maneira, a questão da negritude, que a cor importa. Refletindo que os negros no Brasil estão livres, mas também estão presos pelo racismo. Muito importante esse projeto, porque eles estão trabalhando um tema de forma lúdica, mas uma discussão que é essencial", afirmou.
Trabalho coletivo
A secretária de Educação de Vitória, Juliana Rohsner, esteve presente na abertura da exposição e conheceu de perto o trabalho da turma.
"A Emef Ufes é uma referência para nós. Esse projeto é muito potente. Que nossos estudantes levem esse olhar curioso para a vida", destacou.
O projeto é um trabalho coletivo. Na curadoria, a partir do estudo das obras, os responsáveis foram os estudantes Ana Luísa Baiocco, Denise Costa, Paulo Henrique, Sara Sena, Sulamitha de Oliveira e Taisa Nunes.
A expografia e montagem ficaram a cargo de Arthur Martins, Luis Gabriel, Maria Estefhany, Sabrina Alves Ribeiro e Thamires Araújo. O roteiro educativo integrou Caio Grigoleto, Lucas Marçal, Luiza Lima, Miguel Ângelo e Pedro Lucas.
Produção, divulgação e design foram desenvolvidos por Gustavo Rangel, Luiz Carlos, Mateus Braga e Pietro de Souza. Para a documentação e registro, os responsáveis são Gabriel Contao, Luiz Fernando, Raysla Herlem e Yasmin de Oliveira. O desenvolvimento é de Stéfany Pereira da Silva, com supervisão e orientação das professoras Julliana Amorim e Julia Rocha.
A exposição
"A cor importa?" é uma exposição artística elaborada em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) a partir da pesquisa da estudante Stéfany Pereira, do curso de Licenciatura em Artes Visuais, sendo desenvolvido juntamente com a professora de Arte da Emef Experimental de Vitória Ufes, Julliana Amorim.
A partir dos estudos desenvolvidos durante as aulas de Arte, os estudantes da turma do 9°ano conheceram obras de artistas contemporâneos que os levaram ao questionamento: A cor importa? E se importa, qual diferença ela faz para você?
Após experimentarem todo processo de um projeto de exposição e criarem um espaço expositivo dentro da escola, surge a exposição "A cor importa?" que apresenta para o público escolar e comunidade seis obras de artistas capixabas.
As obras de arte
As obras de Geovanni Lima e Luciano Feijão, de acordo com a curadoria da exposição, se assemelham em suas narrativas, mas de formas diferentes, ambas mostram diferentes pontos de vista sobre a discussão étnico-racial, retratando a população negra como forma de resistência aos processos de estigmatizarão e aniquilação a que tem sido submetida.
Já Bianca Corona produziu e explora a linguagem da aquarela, exercitando sua prática com mesclagem de tons de uma mesma cor, exemplificando os possíveis usos das cores em conjuntos com as formas, estimulando a criatividade. Júlia Ramalho, por sua vez, trabalha na persuasão e anseio de registrar, começando com apenas uma linha, trabalha as formas e corporeidade. Sua obra "Rosto, 2017" foi uma das primeiras pinturas que a artista fez e continua fazendo o mesmo estilo de pintura até hoje, a obra representa o início da relação da artista com o desenho.
Renato Ren explora a materialidade da tinta guache sobre papel, assim mostrando seu posicionamento crítico a respeito das questões políticas e sociais na atualidade; e as suas obras abordam esses temas recorrentemente. Por fim, Rick Rodrigues utiliza lenço, desenho e bordado para propor uma discussão da contemporaneidade e da tradição junto a abordagens sobre memória, gênero e sexualidade.