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Mulheres vencem preconceito e atuam como garis em Vitória

Publicada em | Atualizada em

Por Janete Carvalho, com edição de Deyvison Longui


Elizabeth Nader
Adalgisa Santos Roseno, Mulheres garis
Chamada pelo apelido de "morena", Adalgisa é muito animada para o realizar o trabalho de varrição

Um campo de trabalho antes dominado só por homens vem, há cinco anos, sendo ocupado também pelas mulheres. Trata-se da profissional de limpeza urbana, a gari, que, em Vitória, representa uma minoria de 40 mulheres num universo de 660 garis.

Todas têm carteria assinada pela Vital Engenharia Ambiental, empresa terceirizada pela Prefeitura e que tem contrato de limpeza pública com a Secretaria Municipal de Serviços (Semse). Na passagem do Dia Internacional da Mulher deste ano, elas aguardam ansiosas as surpresas que sempre recebem.

Anteriormente, todas elas trabalhavam na classificação dos materiais recicláveis da antiga usina de lixo, que existiu durante muitos anos no bairro São Pedro, fazendo a separação dos resíduos reaproveitáveis.

Em 2007, quando o local foi desativado, elas pensaram que a situação iria piorar com a falta de trabalho e decidiram aceitar o contrato de trabalho como garis. Muitas sustentavam famílias ou ajudavam os pais com o dinheiro arrecadado na reciclagem do lixo e tiveram medo de encarar o serviço na varrição das ruas de Vitória.

Vitórias

Teve mulher que até chorou no primeiro dia de trabalho, sentindo vergonha no meio de tantos homens, mas com o passar do tempo, todos se acostumaram com a presença e o capricho delas. Para surpresa da maioria, elas venceram todos os obstáculos e preconceitos e já são presenças marcantes nas ruas de Vitória. Com um horário de trabalho que vai de 6h às 13h20 ou de 7h às 14h20, tendo uma hora de almoço, as garis sentem orgulho em contribuir com a limpeza da capital.

Lucinéia Maria de Jesus Coelho, 39 anos, casada e mãe de um filho de 13 anos, moradora de São Pedro, conta que adora ver as propagandas de televisão que mostram as ruas da cidade sempre limpas. "Sinto prazer em saber que eu participo com o meu trabalho de varrer as ruas. Quando um turista elogia a limpeza de Vitória é importante para mim", destacou a gari que cumpre a rotina de trabalho nas ruas do bairro Praia do Canto.

E não é para menos. Primeiro, ela tinha medo de ficar desempregada, mas, depois, enfrentou o preconceito dos colegas do sexo masculino, que duvidavam da força feminina e faziam críticas e gracejos. Com o passar do tempo, vendo que as mulheres são guerreiras também nessa atividade, os homens passaram a colaborar e ensinar o trabalho.

"Varrer rua é difícil, mas hoje em dia a gente é até reconhecida nas vias e recebe elogios dos moradores", ressalta Adalgisa Santos Roseno, 49 anos, casada e mãe de três filhos, moradora de Nova Palestina. Chamada pelo apelido de "morena", essa gari é tão animada para o realizar o trabalho de varrição que já pegou fama de "varrer demais".

Sorrindo, ela conta que já se espalhou entre as equipes a sua vontade de limpar tão bem as ruas porque ela varre com tanta força para tirar não só as folhas e copos, mas até a areia. Geralmente, elas varrem as ruas em duplas.

Beleza

Trabalham uniformizadas dos pés à cabeça, conforme as normas de segurança. Mesmo assim, não dispensam a maquiagem nem os cuidados com as unhas e os cabelos. De sombra lilás combinando com o batom rosa claro, a gari Marlúcia Rodrigues de Souza Silva, 32 anos, casada e mãe de uma filha de 14 anos, moradora de São Pedro, varre as ruas da Ilha do Frade e Ilha do Boi atualmente.

Elizabeth Nader
Lucinéia Maria de Jesus Coelho, Marlucia Rodrigues de souza e Silva, Adalgisa Santos Roseno,Mulheres garis
Há cinco anos as garis Lucinéia, Marlúcia e Adalgisa atuam em um campo de trabalho antes dominado só por homens

De sorriso cativante e cabelos cacheados louros, ela chama atenção pela beleza jovial e já causou ciúmes numa moradora da cidade. "Um dia, uma mulher saiu dando tapas no marido que tinha olhado pra mim. Eu só vi porque ela batia tanto nele e olhava pra trás na minha direção", contou rindo.

Na realidade, sem aqueles uniformes de garis, elas são como todas as mulheres que se cuidam e gostam de se mostrar belas. Com roupas normais, nem são reconhecidas.

Mesmo assim, sentem satisfação no que fazem e garantem que o salário de gari pode ser compensador. A base salarial, que é de R$ 730,00, pode esticar com horas extras e com o ticket alimentação de R$ 190,00.

Quando o mês tem muita hora extra, dá para tirar R$ 1.300,00 ou mais. É claro que elas ajudam na renda familiar, mas todas admitem que é muito bom ter a própria renda e independência financeira.