Um espetáculo traduzido da língua do mar se derrama no palco
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Por Brunella França, com edição de Deyvison Longui
Adriano Horta
Bem-me-quer. Malmequer. Bem-me-quer. Malmequer. Bem-me-quer... O destino de um amor em cada pétala retirada da flor: quem nunca brincou disso? Mas, numa comunidade de pescadores, é o mar quem impõe o ritmo e traça o rumo da vida das pessoas.
“O mar me quer levar para os braços do meu bem me quer”. Zeca é um homem que tenta fugir de seu passado e vive em diálogo com seu avô Celestiano, já falecido. Apaixonado por uma mulher mais velha, Luarmina, outrora amante de seu pai, Zeca necessita revisitar suas memórias para conquistar a amada.
Essa é a história de “Mar Me Quer”, oitava montagem de A Outra Companhia de Teatro, da Bahia, encenada na última sexta-feira (21), no Armazém 5 da Estação Porto, como parte da programação do VII Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura.
O grupo baiano pede ao público para fechar os olhos e sentir. Atores fazem a plateia um convite para sonhar. No palco, lendas africanas que propõe reflexões sobre o homem são apresentadas no espetáculo baseado na novela do moçambicano Mia Couto, adaptada para o teatro pela portuguesa Natália Luíza.
Como recurso cênico, os atores manipulam o cenário e produzem os efeitos sonoros, criando um mar de beleza e poesia transmutada para a cena. O repertório musical apresentado vai se derramando e embalando as memórias contadas e recontadas, enquanto os atores vão se intercalando na interpretação das mesmas personagens.
Luarmina, Zeca, Avô Celestiano e Agualberto esquadrinham um mar de memórias, navegam no sonho de perdas e ganhos e lavam nas águas ora turbulentas, ora de desejo, as calmarias que escorrem pelas ondas das horas velhas, das têmporas do amor e das sombras e luzes da morte.
“(...) E eis que é chegado o momento de encontrar outros olhares, tecer outras redes, desembocar em outras águas e embarcar em viagens ímpares com tripulações a cada noite, sempre embalados no mal-me-quer-bem-me-quer do cair das pétalas que fazem esse mar que nos quer”, A Outra Companhia de Teatro.